top of page

A flor da pele – Emoções e sentimentos que influenciam os resultados do atleta de alto rendimento.

Atualizado: 22 de jun. de 2020

RESUMO

Objetivo: A interferência psicológica no rendimento dos atletas tem sido alvo de pesquisas, que identificam estados emocionais, uma forma importante de obter um resultado significativo no contexto esportivo. Este trabalho tem como objetivo descrever e discutir as emoções, sentimentos e os tipos de intervenção do psicólogo do esporte junto aos atletas de alto rendimento, checando a influência dos estados emocionais nos atletas de alto rendimento e suas possíveis interferências no rendimento esportivo, assim como ajudando-os a alcançar resultados favoráveis.

Resultado: O resultado inicial das bases de dados resultou no total de 50 artigos, sendo referentes a pesquisas realizadas no Brasil. Após as leituras, 30 artigos que não atendiam aos critérios de seleção foram eliminados como; metodologia de pesquisa, base de dados e pesquisa com base em estudos científicos. Ao longo da construção do presente trabalho, utilizamos 20 artigos no desenvolvimento da atual revisão.


Conclusão: Os resultados encontrados nos mostram que dentro do que foi pesquisado, existem fatores que interferem no rendimento esportivo da maioria dos atletas, afetando de maneira geral o rendimento individual do atleta, mas também o rendimento da equipe. Com isto identificamos que não basta dar atenção somente aos treinamentos físicos, táticos e técnicos, se faz necessário também dar uma atenção especial aos fatores psicológicos dos atletas, para que possam alcançar seu melhor rendimento nos treinos e competições.

Sugerimos aprofundar mais em pesquisas desta área, para que possamos compreender melhor as emoções e sentimentos dos atletas. Sugerimos também uma intervenção constante do trabalho do psicólogo do esporte atuando junto a equipe continuamente.

1. INTRODUÇÃO

O esporte moderno, a cada ano, se torna mais competitivo, movendo uma serie de interesses e, com o avança da tecnologia, os treinamentos técnico, tático e físico estão cada vez mais próximos, caracterizando-se pelo crescimento rápido dos seus resultados. Muitos técnicos buscam em seus atletas o rendimento máximo a qualquer custo, e não o rendimento ótimo, que teoricamente, e falando de atividade física e saúde, seria o mais recomendado.

Este crescimento e estes resultados acabam acarretando exigências elevadas do estado emocional (psíquico) dos esportistas. Os atletas devem ter o nível de saúde psíquica alto, para que apresentem resistência contra qualquer tipo de estresse, persistência elevada em alcançar o sucesso, autocontrole em situações inesperadas complexas e tomada de decisões adequadas nestas situações.

O assunto desta pesquisa é a preocupação com a saúde psíquica dos atletas. Saúde psíquica é o funcionamento perfeito do sistema nervoso central e sua capacidade de manter o equilíbrio emocional.

A saúde psíquica do atleta de rendimento é estabelecida pela sua eficiência psíquica nos eventos de maior importância e se determina pela perfeição de funcionamento do sistema nervoso central do atleta, baseada nas suas peculiaridades tipológicas básicas (DEA et al, 2011).

A relação existente entre a atividade física e a expressão de emoções vem sendo colocada em debate, há tempo. MIRANDA (1998 apud DEA et al, 2011) relata que qualquer atividade física nunca é puramente física, sempre implica em uma simultaneidade psíquica que nem sempre é levada em consideração por participantes ou pelos professores envolvidos.

Para a mesma autora existe uma forte relação entre atividade física, emoções e comportamento, relatando que um dos fatores mais explícitos nas atividades físicas e esportes de um modo geral, é o efeito emocional sobre o comportamento da pessoa diante de uma tarefa qualquer. Há uma clássica discussão a respeito das emoções no que se refere ao efeito perturbador e desorganizador sobre o comportamento (apud DEA et al, 2011, apud SCHNEIDER et al, 2007).

Conforme GAZZANIGA E HEATHERTON (2005 apud DEA et al, 2011), o humor ou estado de ânimo variam com as vivencias e exigências, proporcionadas pelo meio externo, podendo ser definido como o tônus afetivo do indivíduo, segundo os autores o estado de humor influencia a forma como o indivíduo irá perceber o que está a sua volta, aumentando ou reduzindo o impacto destes acontecimentos e determinando como irá agir.

De acordo com WEINECK (1990 apud DEA et al, 2011) para o bom desempenho de atletas é importante o bem-estar (aspectos determinantes relacionados com fatores fisiológicos, sociais e psicológicos, presentes na unicidade esportiva). JONES e HARDY (1990 apud DEA et al, 2011) estabelecem que a eficiência dos atletas está envolvida com as variáveis cognitivas e psicológicas do indivíduo, o que significa a associação de fatores biomecânicos, fisiológicos e principalmente psicológicos para o sucesso.

ROHLFS et al (2004 apud DEA et al, 2011) relatam que alterações psicológicas influenciam no rendimento esportivo são constantemente observadas em atletas e podem surgir por inúmeros motivos. As grandes exigências físicas e psicológicas dos treinos e competições, a incerteza da vitória, o medo da derrota, a insegurança quanto as suas capacidades e habilidades, são alguns dos muitos fatores que podem propiciar o desequilíbrio emocional no atleta.

VIEIRA et al (2008 apud DEA et al, 2011) comentam que o estado de humor é um fator que interfere diretamente no desempenho destas equipes de alto rendimento. Os autores dizem ainda que o esporte se apresenta como um dos ambientes que podem influenciar na estrutura da personalidade do atleta alterando os estados de humor deste. Quando o estado de humor se desestabiliza o atleta apresenta dificuldades em viver e funcionar no âmbito social, podendo fugir das normas, regras e comportamentos adequados no esporte, podendo prejudicar sua equipe.

Para MIRANDA & BARRA FILHO (1999 apud MODOLO, 2008), ao se comentar de estados psicológicos, temos os estados psicológicos de mobilização, chamados de modelo combativo ótimo. No modelo combativo, reunidos em condições ideais, temos os três componentes físicos, mentais e emocionais. Este modelo sugere que os três componentes atuem de forma simultânea, mantendo-a no melhor nível do início ao fim da competição (mobilização máxima). Seria o melhor estado que o atleta atinge para uma competição. Um atleta que se encontra fora destes estados, está fora do estado de mobilização e obviamente estará fora do estado combativo ótimo.

FERREIRA, LEITE E NASCIMENTO (2010 apud SILVA, PADOVANI E VIANA, 2016), assim como WEINBERG E GOULD (2008) comentam que o alivio do estresse, da ansiedade, a melhoria da saúde física e a promoção do bem-estar psicológico estão, geralmente, associados a prática da atividade física. No entanto, o efeito pode ser inverso quando a prática de esportes envolve competição, provocando aumentos significativos nos níveis de estresse e de ansiedade.

BRANDÃO E MACHADO (2008), FERREIRA, LEITE E NASCIMENTO (2010), SAMULSKI (2009) E WEINBERG E GOULD (2008) sugerem que a exposição constante a situações de avaliação de desempenho, as características de treinamento e das competições assim como a auto cobrança e o manejo das emoções negativas durante os eventos competitivos, se a apresentam como importantes variáveis geradoras de estresse entre atletas de diferentes modalidades esportivas (apud SILVA, PADOVANI E VIANA, 2016)

O atleta encontra-se sujeito a diversos fatores ansiogênicos, Além do estresse, a ansiedade esta intrinsicamente relacionada ao processo competitivo, mas é principalmente na fase pré competitiva e competitiva que os níveis de ansiedade se mostram mais elevados podendo comprometer consideravelmente sua performance. A exposição continua a eventos estressores de natureza física e psicológica pode ter efeitos significativos na qualidade de vida de atletas de alto nível, o que reforça a importância de estudos que proponham estratégias alternativas no manejo do estresse e da ansiedade. (FERREIRA et al., 2010; SAMULSKI, 2009; WEINBERG E GOULD, 2008 apud SILVA, PADOVANI E VIANA, 2016).


2. PROCESSO DE EXCITAÇÃO E MOBILIDADE – SISTEMA NERVOSO CENTRAL (SNC)

PAVLOV (1938 apud KALININE, GIACOMINI E AUGUSTI, 2000) estudou nos seus laboratórios e descobriu a força do sistema nervoso e foi considerada uma das peculiaridades básicas para a classificação dos tipos de atividade nervosa superior.

A força é uma das peculiaridades básicas do sistema nervoso segundo PETROVSKI (1985 apud KALININE, GIACOMINI E AUGUSTI, 2000), ela caracteriza o limite da capacidade de trabalho das células nervosas do córtex e do encéfalo, ou seja, a sua capacidade de suportar sem entrar no estado de inibição a excitação muito forte, embora não muito forte, mas com ação prolongada.

O mesmo autor relata quê o que caracteriza a intensidade de desenvolvimento dos processos de excitação a própria força dos processos de excitação. A excitação é a propriedade dos seres vivos e é a resposta ativa do tecido excitável sobre alguma irritação ou ativação. É uma função básica do sistema nervoso, onde as células que formam o sistema nervoso, tem a capacidade de conduzir a excitação do setor em que ela apareceu até os outros setores e as próximas células nervosas. Mediante esta capacidade as células nervosas adquiriram a capacidade de transmitir os sinais de uma estrutura do organismo até as outras. Devido este fator, a excitação torna-se a portadora da informação sobre as propriedades das ativações internas e externas, se tornando o regulador da atividade de todos os organismos e seus sistemas, junto com a inibição (KALININE, GIACOMINI E AUGUSTI, 2000).

O processo da excitação surge com um nível determinado do estimulo externo, no qual prevalece o limiar absoluto de excitação. Os processos de excitação junto com os processos de inibição formam a base da atividade nervosa superior dos seres vivos, visto que, a força dos processos de excitação, caracteriza a força do sistema nervoso, sendo uma peculiaridade de cada órgão do organismo. (KALININE, GIACOMINI E AUGUSTI, 2000)

A sensibilidade dos analisadores, onde o sistema nervoso mais fraco é mais sensível, caracteriza também a força do sistema nervoso; por isso, a sensibilidade dos analisadores é capaz de reagir sobre os estímulos de intensidade mais baixa do que o sistema nervoso forte. Pode-se dizer, do ponto de vista biológico, que cada tipo de sistema nervoso tem seu lado positivo e negativo, visto que a força do sistema nervoso está sendo caracterizada pela força dos processos de excitação. (TEPLOV E NEBILITHIN, 1996 apud KALININE, GIACOMINI E AUGUSTI, 2000)

A força do sistema nervoso e a força dos processos de excitação do sistema nervoso humano, são peculiaridades do sistema nervoso que influem em todas as outras peculiaridades e, são fatores determinantes no processo de desenvolvimento do comportamento humano (MERLIN, 1963 apud KALININE, GIACOMINI E AUGUSTI, 2000).

Alto nível de força dos processos de excitação do sistema nervoso forte, se forma, na maioria dos casos, pessoas corajosas, ativas, extrovertidas e autoconfiantes. Por outro lado, baixo nível de força dos processos de excitação do sistema nervoso fraco, como regra, se forma pessoas introvertidas, melindrosas, pouco ativas e pouco autoconfiantes (MERLIN, 1973; KELININE e GIACOMINI, 1998 apud KALININE, GIACOMINI E AUGUSTI, 2000)

A força dos processos de inibição caracteriza a intensidade de desenvolvimento dos processos de inibição, onde inibição é um processo ativo indissoluvelmente, ligado com a excitação, provocando retenção da atividade dos centros nervosos ou dos órgãos de trabalho. A inibição quando ligada aos centros nervosos chama-se inibição central e quando ligada com os órgãos de trabalho é denominada de inibição periférica. (KALININE, GIACOMINI E AUGUSTI, 2000)

Segundo PAVLOV (1938) e PETROVISKI (1985), os processos de inibição junto com os processos de excitação asseguram a adaptação do organismo para o ambiente, que está em constante mudança. A força dos processos de inibição do sistema nervoso influi no comportamento do ser humano e caracteriza a sua capacidade de ser discreto em emoções, condutas, ações e relações. A inibição é um componente necessário na atividade integral e de coordenação do sistema nervoso. (apud KALININE, GIACOMINI E AUGUSTI, 2000).

A mobilidade, descrita e estudada por Pavlov (1938), é uma das propriedades do sistema nervoso, que consiste na capacidade de reagir rapidamente as mudanças do ambiente. Esta peculiaridade foi diagnosticada através de metodologias básicas, elaboradas por PAVLOV (1938). E se basearam na revelação da velocidade e facilidade da troca de processos nervosos para outros da mesma ação ou ação inversa, e na revelação da velocidade do surgimento e da extinção destes processos. (PETROVSKI, 1985 apud KALININE, GIACOMINI E AUGUSTI, 2000)

O nível de mobilidade dos processos de excitação e inibição caracteriza a facilidade para passar de uma atividade para outra e a velocidade de adaptação as novas condições, que ocorrem no sistema nervoso. (KALININE, GIACOMINI E AUGUSTI, 2000)

Para PETROVSKI (1985 apud KALININE, GIACOMINI E AUGUSTI, 2000), o equilíbrio dos processos de excitação e inibição é uma peculiaridade que ocorrem no sistema nervoso do homem, e que se revela, pela proporção entre os processos da excitação e dos processos da inibição.

A noção de equilíbrio dos processos nervosos foi introduzida por PAVLOV (1938 apud KALININE, GIACOMINI E AUGUSTI, 2000), que com outras peculiaridades do sistema nervoso (força e mobilidade do sistema nervoso) forma um conjunto do tipo de atividade nervosa superior.

Para SCHIMIDT (1993 apud KALININE, GIACOMINI E AUGUSTI, 2000), o tempo de reação, considerado uma peculiaridade tipológica, é uma medida importante de performance, que indica a velocidade e eficácia da tomada de decisão. O tempo de reação representa a velocidade de tomada de decisão e de início das ações, também, é considerado um componente de muitas outras atividades. Esta peculiaridade do ser humano caracteriza sua agilidade e rapidez, devendo ser bem desenvolvida nos atletas de alto rendimento.


2.1 TIPOS DE TEMPERAMENTOS

A construção de uma identidade no processo de formação do atleta garante que a psicologia esportiva seja levada em consideração. Assim sendo, consideramos que os aspectos sobre esta temática são necessários, contribuindo e sendo agregado durante a periodização do treinamento esportivo, seja na aprendizagem ou no desempenho esportivo, visando resultados superiores ao treinamento. (HIROTA, TONDATO E KNIJNIK, 2012)

WEINECK (2003 apud HIROTA, TONDATO E KNIJNIK, 2012) afirma: “A capacidade de desempenho esportivo é, devido a sua composição multifatorial, de difícil treinamento, somente o desenvolvimento harmônico de todos os fatores determinantes do desempenho possibilita que se obtenha um alto desempenho individual”. Cada indivíduo pode se predispor a avaliar o meio em que está inserido e gerar uma determinada resposta para a tarefa a ser realizada.

Os fatores estáveis da personalidade, como os determinantes situacionais do comportamento da realização, convergem para o comportamento de realização em situação especifica, vindo a depender do desempenho do ser humano em uma determinada tarefa, demonstrando um resultado. (HIROTA, TONDATO E KNIJNIK, 2012)

O tipo de sistema nervoso central, segundo PAVLOV (1938), influência significativamente nas peculiaridades dinâmicas do comportamento do ser humano. Para o mesmo autor, o sistema nervoso central apresenta três peculiaridades básicas: força, equilíbrio e mobilidade dos processos de excitação e inibição. Existindo quatro tipos básicos que compõem a atividade nervosa superior:

- Sanguíneo - Forte, equilibrado, móvel.

- Fleumático - Forte, equilibrado, inerte.

- Colérico - Forte, desequilibrado (onde os processos de excitação predominam sobre os de inibição).

- Melancólico – Fraco.

SAMULSKI (1992) e KALININE (1994) comentam que os principais traços de temperamentos do sanguíneo, do fleumático, do colérico e do melancólico, são:

- Sanguíneo: alegre, sociável, persistente, energético e autoconfiante.

- Fleumático: passivo, calmo e de sangue frio, cuidadoso e controlado.

- Colérico: agressivo, impulsivo, inquieto, irritado e combatente.

- Melancólico: triste e mal-humorado, pessimista, reservado e insociável. (apud KALININE, GIACOMINI E AUGUSTI, 2000).

No esporte os temperamentos citados se manifestam de maneiras diferentes:

- O sanguíneo:

- Possui um tipo de sistema nervoso forte, móvel e equilibrado;

- Tem preferência para modalidades esportivas que exijam coragem e ligadas com um alto nível de atividade e mobilidade;

- Se transfere com facilidade de uma atividade para outro tipo de atividade;

- O nível de assiduidade e de concentração são insuficientes, principalmente durante atividades monótonas;

- Aprendem rapidamente, podendo executar com facilidade na primeira tentativa, mas sem precisão;

- Não gostam de trabalhos monótonos e metódicos;

- São pessoas sociáveis, autoconfiantes e tem boa capacidade de trabalho;

- Os resultados esportivos são estáveis;

- Possuem maior rendimento nas competições do que nos treinos;

- Estão em estado de prontidão para combate no inicio de um jogo (VIATKIN, 1978 apud KALININE, GIACOMINI E AUGUSTI, 2000).

- O colérico:

- Possui o tipo de sistema nervoso forte, móvel, desequilibrado, onde os processos de excitação prevalecem sobre os processos de inibição;

- Tem preferência por modalidades esportivas com alto nível de emoção, como basquetebol, handebol, saltos, movimentos intensos e rápidos, etc.;

- Começam a praticar a modalidade esportiva escolhida, mas o entusiasmo logo desaparece;

- Executam a contragosto o trabalho prolongado exigido nos treinamentos, principalmente nos exercícios de força e resistência;

- Apresenta capacidade de repetir muitas vezes um exercício perigoso e difícil, se provocado o seu interesse;

- Seus resultados nas competições têm estabilidade insuficiente;

- Antes das competições podem estar em estado de hiperexcitação, o que frequentemente não os permite a realização plena de suas potencialidades nas competições (VIATKIN, 1978 apud KALININE, GIACOMINI E AUGUSTI, 2000).

- O fleumático:

- Apresenta sistema nervoso forte, equilibrado e inere, com reações lentas e com dificuldade de passar de uma atividade para outra;

- Os hábitos motores e seus desenvolvimentos, são aprendidos lentamente, mas aqueles hábitos já adquiridos de destacam pelo alto nível de solidez e conservadorismo;

- Apresentam um alto nível de capacidade de trabalho e alto nível de estabilidade contra estímulos externos;

- Preferem as modalidades esportivas que consistam de movimentos calmos, uniformes

- Apresentam a tendência para o desenvolvimento metódico das capacidades físicas e treinamento de movimentos esportivos de modo prolongado;

- São muito persistentes e perseverantes;

- Apresentam nível de sociabilidade neutro;

- Os resultados esportivos são estáveis;

- Antes da competição estes atletas já se mostram em estado de combate (VIATKIN, 1978 apud KALININE, GIACOMINI E AUGUSTI, 2000).

- O melancólico:

- Possui o tipo de sistema nervoso fraco;

- Caracteriza-se, em atividades esportivas, pela responsabilidade muito alta e alto nível de desenvolvimento dos analisadores cinestésicos e percepção tátil refinada;

- Tem uma capacidade de trabalho insuficiente;

- Apresenta pouca estabilidade contra estímulos externos e alto nível de ansiedade provocando falta de confiança em si mesmo;

- Preferem atividades esportivas individuais, que não são ligados ao combate imediato, como em equipes;

- Os resultados são instáveis, devido à alta angustia na véspera das competições, onde este estado provoca o desenvolvimento do estado de apatia no início da competição dificultando o alcance de resultados elevados (VIATKIN, 1978 apud KALININE, GIACOMINI E AUGUSTI, 2000).

Para KALININE e GIACOMINI (1997 apud VIATKIN, 1978) existe um quinto tipo, chamado de intermediário, no qual supõem-se que a maioria das pessoas se encontram nesta categoria, eles consideram este quinto tipo como sendo a mistura de todos os outros quatro tipos de temperamento (apud KALININE, GIACOMINI E AUGUSTI, 2000).

Considerando tudo que foi descrito até o momento e, reconhecendo que o tipo de sistema nervoso do ser humano não se muda muito durante a vida, é indispensável o conhecimento do tipo de sistema nervoso do atleta para que possa fazer dele um atleta de rendimento (PAVLOV, 1951; TEPLOV, 1961; NEBYLISTHIN, 1966; MERLIN, 1973; VIATKIN, 1978 apud KALININE, GIACOMINI E AUGUSTI, 2000).


3. EMOÇÃO

Os aspectos psicossociais e emocionais do ser humano, assim como outros aspectos, são fundamentais na relação do indivíduo com o mundo, assim como na determinação da qualidade de vida. O controle e a estimulação de determinadas emoções e sentimentos são de suma importância para o bem-estar do indivíduo ().

BOUTCHER (1991 apud KALININE, GIACOMINI E AUGUSTI, 2000) diz que a emoção é um fenômeno que pode ser observado por vários pontos de vista exercendo inúmeras influências sobre o funcionamento humano, define também que a emoção é um processo complexo que possui componentes cognitivos, psicológicos, comportamentais e experimentais. As consequentes reações impostas pela emoção acarretam em melhoria ou não na condição do indivíduo.

De acordo com MACHADO e CALABRESI (2003 apud KALININE, GIACOMINI E AUGUSTI, 2000) uma função relevante da emoção é o seu efeito regulador sobre o comportamento. Estes autores ainda abordam que. As emoções são provocadas por estímulos externos e influenciam nossas ações como reação e estimulo desencadeantes da ação, e as emoções provocam ações com objetivos de diminuição da tensão emocional.

LELORD e ANDRÉ (2002 apud KALININE, GIACOMINI E AUGUSTI, 2000) entendem a emoção como uma reação súbita de todo nosso organismo, com componentes fisiológicos, cognitivos e comportamentais.

Para THOMAS (1983 apud KALININE, GIACOMINI E AUGUSTI, 2000) as emoções atuam regulando, dirigindo, modificando e influenciando a ação. As emoções podem determinar de forma positiva, ativando e dirigindo as atividades da ação para se alcançar o objetivo, porem também podem abalar ou inibir a ação.

Dessa forma, o controle emocional é essencial para a vida. Saber expressar tanto as emoções positivas quanto negativas auxilia o convívio do indivíduo com seu meio social. A repressão de emoções, principalmente negativas, pode tornar o sujeito mais pessimista, depressivo, inseguro, dificultando seus relacionamentos interpessoais e podendo até influenciar no rendimento esportivo de um atleta (KALININE, GIACOMINI E AUGUSTI, 2000).

O atleta pode ser influenciado mais diretamente por alguns tipos de estados emocionais, como o medo que ante um perigo eminente desencadeia uma reação emocional no sistema nervoso central, gerando uma resposta intelectual de alerta, voluntária e controlada. É uma desorganização psíquica que está presente em quase todos os estados de ansiedade, apatia, alta intensidade emocional e etc., antes, durante e depois da competição. O medo chega a ser considerado uma das emoções mais negativas do esportista, podendo, em alguns casos gerar um desequilíbrio na sua harmonia.

A fobia é apresentada por manifestações orgânicas, um medo intenso e específico que entre elas apresenta-se vertigens, pânico, palpitações, distúrbios gastrointestinais, sudorese e até perda da consciência. Essas reações ocorrem quando o indivíduo se depara com o objeto ou situação fóbica. O medo é totalmente infundado e sua intensidade absurdamente exagerada, porém os temores não cedem a argumentações sejam elas sensatas e ou lógicas.

A vergonha é o sentimento de desonra humilhante, sentimento penoso de desonra, humilhação, rebaixamento, sentimento de insegurança provocado pelo medo do ridículo, embaraço, indignidade, um sentimento de desconforto e impropriedade de si mesmo, de modo a comprometer o relacionamento social ou equilíbrio interior, uma queda original, não porque tenha cometido uma falta, mas simplesmente pelo fato de que se cai frente aos outros. Darwin dizia que o enrubescer era a mais especial e mais humana de todas as emoções.

O fato é que as emoções estão presentes diariamente nas nossas vidas e desempenham um papel importante no nosso comportamento (KALININE, GIACOMINI E AUGUSTI, 2000).


3.1 STRESS

O esporte competitivo é um evento potencialmente provocador de “stress” porque exige do atleta um desempenho próximo do ideal e que, muitas vezes, encontram circunstâncias como pressões externas (tempo de jogo, torcida, resultado da partida, ação dos adversários, etc.), pressões internas (autoconceito, autoafirmação, responsabilidade, etc.) e outros fatores que podem desencadear o processo de “stress” (JONES E HARDY, 1990; MADDEN, SUMMERS E BROWNS, 1990 apud DE ROSE, VASCONCELOS, SIMÕES E MEDALHA, 1996).

De acordo com DE ROSE JUNIOR (1996 apud DE ROSE, VASCONCELOS, SIMÕES E MEDALHA, 1996), o termo “stress” pode representar tanto estimulo ou evento que provoca determinadas reações ou respostas do organismo como estar cansado, mal estar, exaustão, entre outros, quanto a resposta desse organismo a um dado estimulo ou demanda. No esporte, o treinamento intensivo, a situação competitiva, mau desempenho, maior nível de agressividade e etc., seriam um desses fatores.

As teorias mais modernas não consideram o “stress” como um fator isolado, seja ele, estimulo ou reação, mas como um processo que pode ser resumido como um produto da integração entre estimulo e resposta e que depende da percepção que o indivíduo tem das situações causadoras do processo em si (PEREZ-RAMOS, 1992 apud DE ROSE, VASCONCELOS, SIMÕES E MEDALHA, 1996).

Para JONES E HARDY (1990 apud DE ROSE, VASCONCELOS, SIMÕES E MEDALHA, 1996) o conceito do esporte ser um causador de “stress” pode ser enriquecido pela ideia de que não é somente um produto de fatores fisiológicos e biomecânicos, mas também, de fatores psicológicos que terão uma influência fundamental no desempenho dos atletas.

O esporte de alto rendimento é assestado para a obtenção do melhor resultado para que se expresse em uma qualidade superior, constituindo-se num intervalo de tempo, que é o expoente máximo do movimento esportivo. Segundo ARAÚJO (1991 apud FERNANDES, MONTEIRO E ARAUJO, 1991 apud DE ROSE, VASCONCELOS, SIMÕES E MEDALHA, 1996).

Para DE ROSE JUNIOR (1996 apud DE ROSE, VASCONCELOS, SIMÕES E MEDALHA, 1996) competir indica a busca de um determinado objetivo, implicando em confronto individual ou entre equipes, visando o melhor resultado, seja uma vitória, que pode ser representada por uma marca pessoal, um “record” ou a superação de um adversário.

MARTENS, VEALLEY E BURTON (1990 apud DE ROSE, VASCONCELOS, SIMÕES E MEDALHA, 1996) colocam a competição como um processo complexo composto de situações objetiva, situações subjetivas, respostas consequências, como por exemplo espaço físico, adversários, arbitragem, preparação, etc. (situações objetivas), interpretação que o atleta faz das situações anteriores (situações subjetivas), reações somáticas, emocionais, cognitivas e sociais (respostas) e manutenção da atividade, abandono, etc. (consequências). Todos esses aspectos conforme os autores citados acima são articulados por fatores pessoais, envolvendo muitos aspectos psicológicos, tais como: níveis de “stress” e ansiedade, motivação, além de outros fatores como a experiencia e condição individual, etc.

Para DE ROSE JUNIOR (1996 apud DE ROSE, VASCONCELOS, SIMÕES E MEDALHA, 1996) as situações objetivas podem estar diretas ou indiretamente relacionadas com a competição. Entre as situações objetivas diretas estão as situações comuns de um jogo ou prova, como exemplo errar lances livres em momentos decisivos, problemas com arbitragem, jogar em más condições físicas, locais inadequados, condições inadequadas de preparação, etc.

As situações objetivas indiretamente relacionadas com a competição são aquelas que acontecem fora do ambiente competitivo, mas que podem trazer influências diretas no desempenho do atleta: problemas familiares, escolares, financeiros, além de doenças, etc. (DE ROSE JUNIOR, 1996; MILLER et al, 1990 apud DE ROSE, VASCONCELOS, SIMÕES E MEDALHA, 1996).

Para LAZARUS E FOLKMAN (1984 apud DE ROSE, VASCONCELOS, SIMÕES E MEDALHA, 1996) essas situações geram interpretações diferenciadas por parte dos atletas, determinando o nível de resposta e a consequência. Nesta interpretação, ainda afirmam que a pessoa analisa suas chances de sucesso e escolhe a melhor maneira de lidar com a tarefa apresentada.

Neste momento, torna-se muito importante que algumas características do atleta sejam conhecidas e, de certa forma, dominadas para que ele possa tirar o melhor proveito das situações e obter uma resposta mais adequada, em seu desempenho (DE ROSE, VASCONCELOS, SIMÕES E MEDALHA, 1996).


3.2 PADRÃO DO COMPORTAMENTO DO “STRESS”

Para DE ROSE, VASCONCELOS, SIMÕES E MEDALHA (1996) existem formas pessoais e especificas de reação aos estímulos provocadores de “stress” ou ás situações de “stress” que podem até mesmo ser interpretadas como pertencentes a estrutura de personalidade de uma pessoa e no caso deste estudo, dos atletas. Trata-se, porém, de padrões de comportamento e não propriamente de fatores de personalidade.

Conforme DE ROSE, VASCONCELOS, SIMÕES E MEDALHA (1996) a personalidade é uma estrutura com características relativamente estáveis e, até certo ponto, imutáveis. Nesse caso há a influência de dois fatores distintos o temperamento e a personalidade – determinando o comportamento.

Para HARDY, MACMURRAY E ROBERTS (1989 apud DE ROSE, VASCONCELOS, SIMÕES E MEDALHA 1996) quando se fala de comportamento de “stress”, ou de reações de “stress”, nos limitamos a chamá-los de padrões de comportamento. Esses padrões são classificados em Tipo A e Tipo B. Os mesmos autores, citados acima, definem:

- O padrão de comportamento Tipo A: um complexo de ação-emoção que pode ser observado em qualquer pessoa envolvida numa necessidade crônica em conseguir mais em menos tempo, contra esforços opostos de outras situações ou pessoas. Caracterizando-se por uma extrema agressividade e hostilidade, um senso de urgência de tempo e excessiva necessidade de realização.

- O padrão de comportamento Tipo B: a ausência relativa de características do Padrão Tipo A.

Podemos encontrar reações do Tipo A, tanto quanto do Tipo B em atletas e esta condição não está, necessariamente, relacionada com o tipo de esporte praticado, mas sim as características pessoais do atleta. Sendo assim, em um mesmo esporte, podemos encontrar atletas com diferentes padrões de comportamento. (De ROSE, VASCONCELOS, SIMÕES, MEDALHA, 1996)

Em situações de extremo “stress”, alguns atletas, reagem com calma e frieza, não discutem, não se irritam e nem perdem o controle emocional durante a competição, preservando em todos os momentos uma postura de tranquilidade e segurança. Este seria o típico padrão Tipo B. (De ROSE, VASCONCELOS, SIMÕES, MEDALHA, 1996)

Outros atletas podem ser considerados como Tipo A, pois suas reações são de irritação, agitação e nervosismo. (De ROSE, VASCONCELOS, SIMÕES, MEDALHA, 1996)

FIEDMAN e ROSENMAN (1974) descreve que algumas pesquisas as características que incialmente foram descritas comprovam esses aspectos, atestando que não restam mais dúvidas sobre a relação significante e relevante entre esse padrão de comportamento e a elaboração psicofisiológica que determina o processo se “stress” no interior do indivíduo submetido a situações provocadoras de “stress” constantes (apud BRENGELMANN E MICHI, 1982; DE ROSE JUNIOR E VASCONCELOS, 1992; EYSENCK, 1983; IVANCEVICH E MATTESON, 1988; KRANTZ E RALZEN, 1988; LAZARUS E LAUNIER, 1978; VASCONCELOS, DE ROSE JUNIOR, BARRICA, RAMIREZ GARCIA, OLIVEIRA, MATOS E VASCONCELOS, 1995 apud De ROSE, VASCONCELOS, SIMÕES, MEDALHA, 1996).

Para De ROSE JR., VASCONCELOS, SIMÕES, MEDALHA (1996), dentro deste processo quatro aspectos devem ser salientados:

a) Todo atleta tem uma estrutura biológica que determina a forma, a velocidade e a especificidade neurotransmissora de sua reação comportamental. Isto é denominado temperamento;

b) No decorrer do desenvolvimento psicossocial as pessoas aprendem formas de autocontrole que são internalizadas com a finalidade de modelarem o comportamento intuitivo, espontâneo, impulsivo, original, transformando-o em comportamento social adequado. Essa estrutura internalizada de caráter social é denominada personalidade;

c) Quanto ao seu temperamento os atletas podem ser divididos em hiperativos (Tipo A) ou hiporreativos (Tipo B). O atleta do tipo A apresenta uma característica de impaciência, inquietação e despende muita energia para a realização de suas tarefas. Citando o economista Roberto Campos, que se referindo ao comportamento do mercado financeiro, chamou os movimentos inúteis, desnecessários e inquietos de “cabritologia” pode-se fazer uma analogia deste mesmo tipo de comportamento em atletas do Tipo A;