FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS (FMU) - CURSO DE PSICOLOGIA
FRANCISCO ALENCAR PIMENTA
GILSOM DE CASTRO MAIA
ORIENTADORA: Prof.ª CINTIA NAZARÉ MADEIRA SANCHEZ
Atendimento Psicólogo Clínico a crianças surdas: uma questão de diferença linguística
RESUMO
O interesse de realizar esta pesquisa surgiu do fato de existirem pacientes surdos que necessitam de atendimento psicológico e, na maioria das vezes, os psicólogos se encontram despreparados para realizar esse tipo de atendimento, assim como a importância da qualificação e habilitação dos profissionais de psicologia na Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS.
Este trabalho analisará o atendimento psicológico a crianças surdas considerando a dificuldade de comunicação e a diferença linguística, bem como a importância de qualificação do psicólogo para atender essa população. O objetivo da pesquisa será aprofundar os estudos sobre as intervenções psicológicas com crianças surdas, tendo como justificativa compreender a importância do processo de escuta e comunicação em Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) entre o psicólogo e o paciente, assim como a deficiência dos profissionais e estudantes de psicologia para o atendimento desta população. O método de pesquisa deste estudo foi construído por meio de revisão bibliográfica realizada nas bases de dados da SciElo, Livros, PePSIC, SBPH e Google Acadêmico entre os anos de 1994 e 2010.
Palavras chave: Surdez, Criança, intervenção psicológicas, Formação do Psicólogo, comunicação em Libras.
INTRODUÇÃO
No Brasil, em janeiro de 2001, o Congresso Nacional sancionou a Lei Federal nº 10.172, que trata da implantação e generalização, em dez anos, do ensino de LIBRAS, aos alunos surdos e seus familiares (CAPOVILLA & RAPHAEL, 2001).
O Decreto Lei nº. 10.436, de 24 de abril de 2002 oficializou a LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) como língua utilizada pelos surdos no Brasil. A Lei desencadeou diversas mudanças, entre elas a massificação da Língua de Sinais a profissionais de diversas áreas do conhecimento, possibilitando a inclusão social dos surdos em todo o território brasileiro (FEDERAÇÃO NACIONAL DE EDUCAÇÃO E INTEGRAÇÃO DOS SURDOS - FENEIS, 2006).
A LIBRAS é a língua de sinais utilizada pelos surdos que vivem em cidades do Brasil onde existem comunidades surdas. As línguas de sinais são línguas naturais, como as línguas orais e apareceram espontaneamente da interação entre pessoas. Servem para atingir todos os objetivos de forma rápida e eficiente na exposição de desejos, necessidades, sentimentos desde a mais tenra idade. A estrutura dessa língua permite a expressão de qualquer conceito dependendo da necessidade comunicativa e expressiva do ser humano, possibilitando assim a estrutura do pensamento e da cognição, realizando a interação social entre indivíduos numa sociedade (BRITO, 1995). Frente as diferentes culturas e linguagens, o profissional de psicologia deve qualificar-se para atender as necessidades do seu paciente.
De acordo com o censo de 2000, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de surdo era de aproximadamente 166.400, sendo 80 mil mulheres e 86.400 homens, além disso cerca de 900 mil pessoas declaravam ter grande dificuldade permanente em ouvir.
Já no censo de 2010, cerca de 9,7 milhões de brasileiros possuem deficiência auditiva, o que representa 5,1% da população brasileira, deste total
2000.000 possuem deficiência auditiva severa e 1,7 milhões tem grande dificuldade para ouvir e 344,2 mil são surdos e 7,5 milhões apresenta alguma dificuldade auditiva. No que se refere a idade cerca de 1 milhão de deficientes auditivos são crianças e jovens de até 19 anos. (IBGE, 2010)
O maior número de deficientes auditivos, cerca de 6,7 milhões estão concentrados nas áreas urbanas, conforme o censo de 2010. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2011 28 milhões de brasileiros possuem algum tipo de problema auditivo, o que representa 14,8% do total de 190 milhões de brasileiros que possuem problemas auditivos.
Pesquisas também apontam que o número de deficientes auditivos no Brasil deve somente crescer, pois, além do aumento da população idosa no país, que saltou de 2,7% para 7,4% da população, apontado pelo censo do IBGE de 2010, as eficiências auditivas que poderiam ser reversíveis se constatadas até 6 meses de idade, apesar da obrigatoriedade do teste da Orelhinha, de acordo com a Sociedade Brasileira de Otologia – SOB, são constatadas à partir de 4 anos, idade considerada tardia pelos médicos.. (ADAP – Associação de Deficientes Auditivos, Pais, Amigos e Usuários de Implante Coclear, 2013)
A CRIANÇA SURDA E A RELAÇÃO COM O BILINGUISMO
A falta de uma linguagem na primeira infância traz graves consequências para o desenvolvimento social, emocional e intelectual. A incompreensão dos ouvintes muitas vezes faz com que os surdos se sintam inibidos e desencorajados (CAPOVILLA, RAPHAEL, (2001) Apud CARDOZO, CAPITÃO. (2009); Apud VYGOTSKY, 1989).
A LIBRAS, Língua Brasileira de Sinais, possibilita o desenvolvimento linguístico, social e intelectual daquele que a utiliza enquanto instrumento comunicativo, favorecendo seu acesso ao conhecimento cultural-científico, bem como a integração no grupo social ao qual pertence. (SENADO FEDERAL SECRETARIA ESPECIAL DE EDITORAÇÃO E PUBLICAÇÕES - Brasília /DF - OS: no 03747/2006 – SENADOR EDUARDO AZEREDO, 2006)
Segundo Souza (1995 apud Behares 1993), a função do bilinguismo chama a atenção para os seguintes aspectos:
o A educação bilíngue não deve se restringir ao plano estritamente linguístico, mas fundar se num marco de referência mais amplo, integrando as duas línguas no contexto cultural em que são usadas. Ao indivíduo surdo, portanto, a escola deve possibilitar a constituição de uma identidade bicultural confortável.
o O desenvolvimento linguístico processa-se no interior de uma cultura. Daí a necessidade da escola bilíngue estar aberta a todos representantes da comunidade surda, que dela não devem apenas fazer parte, mas exercer funções efetivas (pedagógicas, administrativas, etc).
o A língua de sinais não deve ser ensinada à criança surda como um instrumento artificial de Comunicação, devendo ter acesso a ela o mais cedo possível: Nas oficinas, escolas em que a criança esteja inserida, assim como os pais devem ter clara consciência do que significará para eles optar por um ensino bilíngue, isto é, precisarão aprender também a linguagem de sinais para facilitar o diálogo e o desenvolvimento cognitivo e emocional da criança.
o Além de suas funções técnicas, os professores surdos têm o objetivo fundamental de estabelecer um modelo cultural para as crianças. O aluno surdo, observando o, poderá construir uma visão positiva da surdez, projetando-a na construção de sua autoestima e expectativas sociais futuras. Da mesma forma os mestres e profissionais ouvintes (fonoaudiólogos, psicólogos, etc.) serão responsáveis na escola por apresentar à criança surda o modelo cultural e linguístico do ouvinte, tratando a com respeito, aceitando a em sua diversidade, assim estes profissionais lhe possibilitarão construir e vivenciar confortavelmente seu modo de ser bilíngue e bicultural.
A ideia de ensino bilíngue para surdos é muito recente, como já foi dito. Baseando se em alguns pressupostos, entre os quais, destacamos os seguintes: Não há deficiência a ser reabilitada e as escolas não devem confinar
os surdos e, que crianças ouvintes possam estudar em escolas bilíngues para surdos.
O PSICÓLOGO E O ATENDIMENTO TERAPÊUTICO ÀS CRIANÇAS SURDAS
Segundo Maluf (1994) o psicólogo deve ser um cientista do comportamento com uma formação teórica e metodológica que lhe permita compreender seu objeto de estudo. Não deve ser um profissional limitado somente as técnicas aplicadas. A psicologia vem acumulando ao longo de todos esses anos um considerável conhecimento sobre o ser humano, sem dúvida, ainda um longo caminho a ser percorrido, mas conseguimos avanços importantes na contribuição da educação de surdos. Como em qualquer comunidade, haverá surdos buscando psicoterapias, necessitando de outros tipos de ajuda especializada ou que terão pais que precisem de orientação, assim, como acontece com os ouvintes. A pesquisa e a formação devem introduzir e desenvolver a capacidade de problematizar e buscar soluções.
Acredita-se que deve haver a idéia de complementaridade como enfoque organizador, uma formação multidisciplinar, voltada para a pesquisa, com produção e socialização do conhecimento e para a intervenção, uma formação teórica e prática, formação ética e compromisso social (DURAN, 1994).
Segundo Gonçalves (2005), o atendimento psicológico a pessoa surda, pode constituir um caminho possível para adentrar essa linguagem do silêncio, aprendendo a ouvir com os olhos e perceber por meio de gestos e movimentos as imagens da alma e do inconsciente. O mesmo autor pressupõe que a surdez pode trazer apenas um déficit na comunicação, perfeitamente superável, e não uma patologia a ser curada. O surdo, com exceção dos casos em que há sequelas psiconeurologicas decorrentes de traumas físicos ou doenças, e casos de ter um desenvolvimento como qualquer ouvinte. Na psicologia, não existe diferença qualitativa ou estrutural na mente e no
psiquismo do indivíduo surdo, mas sim existe uma diferença com relação aos fatores que obstruem o fluxo da comunicação. Esta mudança introduziu na psicologia um novo olhar em relação a surdez, pois nessa perspectiva teórica o desenvolvimento da criança surda deve ser comprometido como processo social, e suas experiências de linguagem consideradas como sendo significativas. (CAPORALI; DIZEU (2005) Apud GOES (1999)).
JUSTIFICATIVA
A referida pesquisa visa estudar a importância não somente de profissional não qualificado para o atender pacientes surdos, mas como também a importância da relação e o quanto o aluno pode fazer para contemplar essa falta de qualificação enquanto estudante, quebrando barreiras e tornando-se um psicólogo qualificado e capacitado para um atendimento diferenciado com pacientes surdos. A comunidade surda é composta por pessoas que usam Língua de Sinais como primeiro meio de comunicação, tendo cultura própria e características únicas; a Língua de sinais consiste em linguagem além de normas sociais.
A Língua de sinais, embora presentes em todos os continentes, não têm uma estrutura universal: apresentam estrutura gramatical diferenciada. É uma linguagem de modalidade espaço-visual, pois o sistema de signos compartilhado é recebido pelos olhos e sua produção é realizada pelas mãos, no espaço. São reconhecidas como língua pela Linguística e possuem uma estruturação tão complexa como as línguas faladas, fato que lhes permite ser atribuído o conceito de línguas naturais. A partir do momento em que os países reconhecem oficialmente a Língua de Sinais como língua natural da comunidade surda, o profissional da saúde passa a ser solicitado a se preparar para dar efetivo atendimento a esta população.
Como em qualquer comunidade haverá surdos buscando psicoterapias, necessitando de outros tipos de ajuda especializada ou que terão pais que precisem de orientação e atendimento. A psicanálise nos mostra que a
normalidade é uma utopia e que, em muitos casos, e que a diferença entre “normal” e “patológico” não é muito clara. Os surdos não são diferentes, logo não existe o porquê de não os considerar, em natureza, idênticos a todos os demais indivíduos. (SOUZA, R. M. 1995)
OBJETIVO
O objetivo da pesquisa é aprofundar os estudos sobre intervenções psicológicas e formas efetivas do atendimento a pacientes surdos, assim como a importância de qualificação dos alunos e profissionais de psicologia na Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ADAP – Associação de Deficientes Auditivos, Pais, Amigos e Usuários de Implante Coclear, 2013. Disponível em: www.adap.org.br/site/index.php/artigos/20-deficiencia-auditiva-atinge-9-7-milhoes-de-brasileiros
Acesso em: 27 de Jul. 2016.
AZEREDO, E. - SENADO FEDERAL SECRETARIA ESPECIAL DE EDITORAÇÃO E PUBLICAÇÕES - Brasília /DF - OS: no 03747/2006 – 2006.
Disponível em: feneis.org.br/wp-content/uploads/2016/05/Lingua-Brasileira-De-Sinais-Uma-conquista-Histórica.pdf
Acesso em 08 de Jul. 2016
BRITO. F. L. Por uma gramática de língua de sinais. Rio de Janeiro, RJ: Edit. Difusão, ano. 2010.
CAPORALI, S. A.; DIZEU, L. C. T. B - Educ. Soc., Campinas, vol. 26, n. 91, p. 583-597, Maio/Ago. 2005. Disponível em http://www.cedes.unicamp.br.
Acesso em 21 de Jul. 2016.
CAPOVILLA, F.C.; RAPHAEL, W.D. Língua de Sinais Brasileira: Dicionário enciclopédico ilustrado trilíngüe. São Paulo, SP: Edusp-Fapesp-Vitae, 2001.
CARDOSO, L.M.; CAPITÂO, C. G. Evidencias de validade dos testes do desenho de figura humana para o contexto de surdez. Aval. Psicol. V.8 n.2 Porto Alegre ago.2009.
DURAN, A. P. Alguns dilemas na formação do psicólogo: buscando sugestões para superá-los. In: ACHCAR, R. (coord.) Psicólogo Brasileiro: Práticas Emergentes e Desafios para a Formação. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1994.
FEDERAÇÃO NACIONAL DE EDUCAÇÃO E INTEGRAÇÃO DOS SURDOS (FENEIS). LIBRAS: Língua Brasileira de Sinais. Disponível em: http://www.feneis.br
Acesso em 15 de maio. 2016.
GONÇALVES, P. C. – Atendimento psicológico para surdos – Disponível em: http://psisurdos.blogspot.com.br/p/atendimento-psicologico-para-surdos.html
Acesso em 20 de Jun. 2016.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo demográfico 2000 e 2010: resultados gerais da amostra. Rio de Janeiro, 2010.
MALUF, M. R. Formação e atuação do psicólogo na educação: dinâmica de transformação. In: ACHCAR, R. (coord.) Psicólogo Brasileiro: Práticas Emergentes e Desafios para a Formação. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1994.
Souza, R. M. Educação especial, psicologia do surdo e bilinguismo: bases históricas e perspectivas atuais – Periódicos Eletrônicos em Psicologia - PEPSIC - Temas Psicol. vol. 3. no. 2, Ribeirão preto, SP. ago 1995
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