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Ciúmes e a psicanálise

Foto do escritor: Gilsom Castro MaiaGilsom Castro Maia

Atualizado: 16 de jun. de 2020





O que preocupa são os extremos, sua ausência aponta para um problema, e sua intensidade revela uma patologia.

“Se alguém parece não possuí-lo justifica-se a interferência de que ele experimentou severa repressão e, consequentemente, desempenha um papel ainda maior em sua vida mental inconsciente” (FREUD, 1922/1996, p. 271).


O ciúme é assim, parte da realidade inconsciente, e é nessa outra cena que precisamos buscar os mecanismos psíquicos que estão envolvidos na sua constituição.

No livro “Alguns Mecanismos Neuróticos no Ciúme, na Paranoia e no Homossexualismo” (1922). Freud destaca que o ciúme é “(…) um daqueles estados emocionais, como o luto, que podem ser descritos como normais”.

A sua ausência, portanto, seria resultado de severa repressão, desempenhando um papel ainda mais importante no inconsciente. Difícil de colocar em palavras, o ciúme é o medo da perda do objeto ou a raiva daquele que pode roubar o objeto.

É fácil perceber que essencialmente se compõe de pesar, de sofrimento causado pelo pensamento de perder o objeto amado, e da ferida narcísica [...] de sentimentos de inimizade contra o rival bem-sucedido e de maior ou menor quantidade de autocrítica, que procura responsabilizar por sua perda o próprio ego do sujeito (FREUD, 1922/1976, p. 271).

Freud ainda lança em análise três tipos de ciúmes:

a) normal ou competitivo;

b) projetado;

c) delirante.

A subjetividade pode fazer uso de quantas combinações convier, sendo determinadas pelas fantasias e vivências primitivas da infância, podendo as modalidades ocorrerem mutuamente ou não. É importante pensar nos três tipos, ocorrendo em maior ou menor grau, no dia-a-dia dos relacionamentos afetivos.

Devemos nos atentar na posição homossexual ou bissexual – inconsciente – presente no ciúme.

Ciúme Normal ou Competitivo - “Se constitui essencialmente do luto, da dor pelo objeto amoroso que se acredita haver perdido e da injúria narcísica; também de sentimentos hostis pelo rival favorecido”. (Freud-1922)

- O tipo “a” que é visto como normal, esse ciúme não é completamente racional. Tem sua raiz no inconsciente; é “[...] uma continuação das primeiras manifestações emocionais da criança, origina-se do complexo de Édipo ou de irmão-irmã do primeiro período sexual” (FREUD, 1922/1976, p. 271).

Reeditamos constantemente nossas vivências edípicas. O grau de normalidade ou de patologia do ciúme, depende da resolução e dos percalços desse período.

Popularmente dizemos que uma pitada de ciúme nas relações de casal é como um tempero que, na medida certa, deixa a comida no ponto. Pittman (1994, p.49) endossa isso, dizendo que o ciúme normal é necessário ao casamento, [...] uma defesa contra a entropia matrimonial. Pequenos jatos de ciúme podem ser como uma cola que une o relacionamento e previne qualquer tendência natural ao afastamento.

Tanto Kernberg (1995) quanto Freud (1922) afirmam que toda relação de casal é perpassada por fantasias triangulares, de diferentes configurações. Segundo Kernberg, há dois tipos de triangulação – direta e inversa, que podem destruir ou reforçar a intimidade e estabilidade dos casais. Ele assim as descreve:

Todos os homens e todas as mulheres, inconsciente ou conscientemente, temem a presença de alguém que seja mais satisfatório para seu parceiro sexual: este terceiro temido é a origem da insegurança emocional na intimidade sexual e do ciúme como um sinal de alarme, protegendo a integridade do casal [...] a triangulação inversa define a fantasia compensadora, vingativa, de envolvimento com outra pessoa além do parceiro sexual, um membro idealizado do outro gênero, que representa o objeto edípico desejado, estabelecendo, assim, um relacionamento triangular no qual o sujeito é cortejado por dois membros do outro gênero, em vez de precisar competir com o rival edípico do mesmo gênero pelo objeto edípico idealizado do outro gênero (KERNBERG, 1995, p. 85).

Olhando do ângulo do homem, o casal já não é dois, mas quatro. Considerando que sua mulher também tem uma rival edípica e outro objeto idealizado e desejado, teremos seis. Assim, dadas essas duas fantasias universais, nunca o casal está a dois na cama, mas sempre a seis: o casal, seus respectivos rivais edípicos inconscientes e seus respectivos ideais edípicos inconscientes.

Nesse tipo, comumente achamos evidencias bissexuais em alguns casos clínicos: ” (…) isto é, um homem não apenas sofrerá pela mulher que ama e odiará o homem seu rival, mas também sentirá pena pelo homem, a quem ama inconscientemente, e ódio pela mulher, como sua rival. ” (FREUD, 1922).

Observamos aqui, também, várias dores bem distintas:

1º - a perda do objeto amado, que gera a dor do luto;

2º - a dor narcísica, o defrontar-se com a ideia de que não se é tão indispensável para o amado como se pensava;

3º - a presença de um rival, sempre mais forte, potente e desejável. E nesse embate ele venceu.

4º - a perda da distância necessária para a compreensão da perda, assumindo a culpa.

A fantasia narcísica onipotente de que o amado não sobreviveria sem meu amor cai por terra. E a culpa dói. Daí ouvirmos expressões como estas:

• “O que me dói não é o fato de ele (a) ter me deixado, mas ter achado alguém mais bonita (o) do que eu.” • “O que ele (a) viu naquela (e) horrorosa (o) para ficar com ela (e)? O que ela (e) tem que eu não tenha melhor?” • “Não consigo saber o que fiz para ele (a) me deixar!”

O ciúme considerado “normal”, [...] provavelmente contém um elemento de dependência e medo de abandono. Ele pode ser o equivalente adulto dos medos de ser abandonado pelos pais que todos nós experienciamos quando éramos bebês (PITTMAN, 1994, p. 49).

Em ditos populares falamos que uma pitada de ciúme nas relações de casal é como um tempero que, na medida certa, deixa a comida no ponto. Pittman endossa isso, dizendo que o ciúme normal é necessário ao casamento, [...] uma defesa contra a entropia matrimonial. Pequenos jatos de ciúme podem ser como uma cola que une o relacionamento e previne qualquer tendência natural ao afastamento (PITTMAN, 1994, p. 49).

Freud escreveu: “Estou me acostumando a encarar cada ato sexual como um processo em que há quatro indivíduos envolvidos” - Carta a Fliess, 01/08/1889. (MASSON, 1986, p. 365). Sentimentos ambivalentes convivem lado a lado, embora um dos pares amor/ódio seja vivido de forma inconsciente.

Ciúme Projetado - “Este deriva da própria infidelidade realmente praticada ou de impulsos a infidelidade que cederam à repressão, que as nega em si próprio, contudo, sente sua pressão de forma tão intensa que faz uso de um mecanismo inconsciente para se aliviar. Obtém esse alívio, essa absolvição perante sua consciência, quando projeta seus próprios impulsos à infidelidade no parceiro ao qual deve fidelidade”. (Freud-1922).

- O tipo “b”, projetivo, deriva-se tanto nos homens quanto nas mulheres, de sua própria infidelidade concreta na realidade ou de impulsos no sentido dela que sucumbiram à repressão (FREUD, 1922/1976, p. 272).

O tipo projetivo parece fazer parte da cultura monogâmica que move a prática da fidelidade.

Segundo Freud, a fidelidade tem um preço que são as constantes tentações à infidelidade. O sujeito obtém alívio dessa pressão e a absolvição da consciência projetando seus próprios impulsos à infidelidade no companheiro a quem deve fidelidade.

[...] acredita-se que esse é o mecanismo comum, a projeção, através do qual os namorados e outros infiéis sofrem ciúmes selvagens e com frequência violentamente intensos, que têm sua máxima intensidade quando a pessoa ciumenta está sendo extremamente infiel (Pittman, 1994, p. 55).

Obviamente, essa fidelidade só existe pela existência de uma força contrária extremamente tentadora: a força da pulsão sexual que é poligâmica em sua essência.

Desta forma qualquer desejo infiel causa angústia e move, a defesa de projetar essa infidelidade no outro. Apesar do tipo projetivo não apresentar em primeira analise a presença de uma posição bissexual ou homossexual, é importante pensar que ela pode ocorrer juntamente com o tipo “a” ou “c”.

Freud observa que o foco no trabalho analítico não deve ser a suposta infidelidade do outro, e sim as fantasias de infidelidade do próprio paciente. Quando isso não acontece, o paciente vai embora, pois nem ele consegue convencer o analista de sua verdade, nem o analista consegue mostrar-lhe que sua verdade é uma construção fantasiosa. Frustrados, ambos se separam.

O sofrimento produzido pela fantasia de ser traído, a obsessão com que o sujeito procura provas da infidelidade do outro e a raiva pela impotência de não conseguir provar invadem o set analítico. O analista, pela intensidade da verdade do paciente, corre o risco de desfocar sua escuta e, em suas intervenções, tentar desmontar o enredo de sua fantasia.

Ciúme delirante - “Também provém de reprimidas inclinações à infidelidade, mas os objetos dessas fantasias são do mesmo sexo do indivíduo.” (Freud-1922), ou seja, essas fantasias são homossexuais.

- O tipo “c”, delirante, mostra uma posição várias vezes exclusivamente homossexual, sendo que, nesse caso, o ciúme pode ser visto como a expressão de mecanismos de defesa contra uma homossexualidade reprimida. Sua origem mantém relação com o segundo tipo “b”, estando num impulso de infidelidade, só que homossexual. A homossexualidade desse sujeito, realiza um percurso que desvia para a paranóia.

O homem se vê constantemente perseguido por um terceiro do mesmo gênero na qual tenta roubar a parceira. Segundo Freud, o homem se defende do impulso homossexual com esta fórmula: “Eu não o amo, é ela que o ama! (FREUD, 1922/1976, p. 273).

O ciúme delirante tem sua origem em impulsos reprimidos no sentido da infidelidade, mas o objeto, nestes casos, é o mesmo sexo do sujeito. O ciúme delirante é o sobrante de um homossexualismo que cumpriu seu curso e corretamente toma sua posição entre as formas clássicas da paranoia (FREUD, 1922/1976, p. 273).

Fenichel (1996, p. 485) afirma que, [...] na análise fica evidente que, quando o paciente suspeita de sua mulher, na realidade se interessa por outro homem. O paciente se esforça por livrar-se de sua homossexualidade por meio da projeção.

Assim sendo, podemos pensar na ênfase do sujeito capturado pelo outro e construir a cena dessa fantasia: Nas dinâmicas até certo ponto voyeuristas do ciúme, o sujeito orbita a (o) parceira (o) e terceiros na relação, os observando, desejando ser eles, acreditando na possibilidade de que esse terceiro possui algo de muito bom que faz ao seu parceiro (a) desejá-lo.

Fantasia que está ligada com a inveja, lembrando de Klein abordando a relação entre ciúmes, inveja e voracidade (Livro Inveja e Gratidão, 1957).

A observação voyeur dessa relação fantasiosa do parceiro com um outro move-se através da crença de que o parceiro e o outro estão vivendo um momento de eterno gozo, do gozo do Outro e não o seu gozo (usando termos lacanianos). Ainda mais complexo pode ser o desejo de ser o parceiro (a) para se relacionar com esse terceiro, mostrando a posição homossexual.

A inveja se manifesta tanto em querer ser o parceiro (a) e desfrutar de uma cena fantasiosa de gozo extremo, quanto de querer ser o terceiro outro na fantasia, de ter tudo de bom que supostamente ele tem e no lugar do mesmo, desfrutar com a (o) parceira (o) esse gozo extremo, retornando à posição heterossexual.

Vemos a homossexualidade e a heterossexualidade presentes, portanto, a bissexualidade, junto da voracidade de trazer para dentro de si tudo que esse terceiro, possui, além da inveja dos dois nessa relação imaginaria que se formou. Ciúmes, inveja e voracidade finalmente estão unidos nessa fantasia de aspectos voyeuristas, bissexuais ou homossexuais.

Kernberg (1995) diz que frequentemente os casais estabelecem um conluio inconsciente, buscando encontrar uma terceira pessoa que encarne ao mesmo tempo o ideal condensado de um e o rival do outro. E acrescenta, que a implicação é a de que a infidelidade conjugal, os relacionamentos triangulares breves ou duradouros, muito frequentemente refletem conluios inconscientes entre o casal, a tentação de encenar o que é mais temido e desejado. A dinâmica homossexual, assim como a heterossexual, entram em cena, porque o rival inconsciente é também um objeto sexualmente desejado no conflito edípico negativo: a vítima da infidelidade frequentemente se identifica inconscientemente com o parceiro traidor nas fantasias sexuais acerca do relacionamento do parceiro com o rival ciumentamente odiado (KERNBERG, 1995, p. 85).

As pessoas cujas relações de objeto estão marcadas por ciúmes apresentam uma incapacidade de amar devido a uma profunda ambivalência. São incapazes de desenvolver um amor autêntico. Suas relações são mescladas com uma forte necessidade narcísica.

Fenichel (1996, p. 485) esclarece, que [...] o sujeito para manter seu equilíbrio psíquico, necessita da sensação narcisista de ser amado incondicionalmente, frequentemente é uma pessoa que está rechaçando inconscientemente suas tendências homossexuais.

E mais adiante Fenichel (1996, p. 485) acrescenta: “Os ciúmes aparecem toda vez que a necessidade de reprimir os impulsos de infidelidade e de homossexualidade coincidem com a característica intolerância à perda do amor”. E isso certamente é doloroso, pois representa uma diminuição da autoestima.

Freud inclui o ciúme delirante como uma variação da paranoia e lembra que os casos de paranoia oferecem dificuldades à investigação analítica. Por isso, em geral, o tratamento fracassa. O sujeito com paranoia de ciúme interpreta sinais dela, imperceptíveis aos outros, como tentativas de traição. Por exemplo: encostar casualmente no sujeito ao lado, olhar na direção em que há outro homem etc. Da mesma forma, o paranoico persecutório decodifica os sinais dos outros como persecutórios.

Os dois tipos de paranoia, o ciumento e o persecutório, projetam para o exterior o que não querem ver em si mesmos. Mas não projetam no vazio, e sim na mente inconsciente dos outros. O ciumento percebe as infidelidades da mulher, amplifica-as muito, e, assim, as suas ficam tão diminutas que nem as percebe. Da mesma forma, a hostilidade que o paranoico percebe nos outros é a projeção de seus próprios impulsos hostis.

Melanie Klein (1991, p. 33) faz uma distinção entre inveja e ciúme:

A inveja ou o impulso invejoso é o sentimento irado de que outra pessoa possui e desfruta de algo desejável de tirá-lo dela e espoliá-lo. Além disso, a inveja implica na relação do indivíduo apenas com uma só pessoa e remonta à mais primitiva relação exclusiva com a mãe. O ciúme se baseia na inveja, mas envolve uma relação com, pelo menos, duas pessoas; diz respeito principalmente ao amor que o indivíduo sente como lhe sendo devido e que lhe foi tirado ou se acha em perigo de sê-lo, por seu rival.

Pittman (1994, p. 55) diz que [...] as pessoas invejosas parecem acreditar que os outros foram amados demais, enquanto eles foram amados de menos, e utilizam o ciúme como moeda corrente em sua tentativa de negociar sua raiva pelo amor de uma outra pessoa.

O mais difícil, no atendimento clínico, por motivos de estruturas culturais que formam a heteronormatividade e a mononormatividade (monogamia) através do eliciar da fidelidade, é fazer com que o sujeito, absorvido numa dinâmica de ciúmes patológico, elabore essas evidências de desejos homossexuais/bissexuais e poligâmicos.

Aheteronormatividade e a mononormatividade são construções sociais que certamente fazem da análise, nesses casos, uma situação desconfortável para o sujeito que afirma constantemente sua heterossexualidade e fidelidade.

O ciúme quando surge como situação sintomática, por exemplo, na relação com o psicólogo, não deixa de estabelecer evidências de uma estrutura neurótica, já que ser capturado pelo outro e demandar sempre algo do mesmo, é uma condição neurótica. A neurose, portanto, surge no ciúme, e o ciúme pode demonstrar, no seu âmago, fantasias homossexuais, bissexuais ou poligâmicas.

Os Mecanismos de Defesa do Ego.

Quando temos conteúdos mentais que geram muita angústia, o Ego cria mecanismos de defesa para nos proteger da dor que foi gerada. Esses conteúdos são excluídos da consciência, reprimidos, e perdem, momentaneamente, a energia.

Em outras palavras: nosso inconsciente, depois de uma cena desagradável, ou um acontecimento doloroso, trata de “esquecer” aquilo que foi presenciado, sentido, para não causar sentimentos de ansiedade em você.

O problema desse “esquecimento” é que ele só foi jogado de lado, mas ele ainda está lá, e, por vezes, pode retornar, como um sintoma, uma doença.

Isso se dá porque aquele sentimento ligado ao fato (que chamamos na psicanálise de Afeto) está lá, ele é pura energia e tem que ser canalizado um dia, de alguma forma.

O ciúme projetado é projetado no outro a sua vontade de estar cometendo traição. Como todos temos um Superego (são nossos preceitos morais e éticos que foram construídos ao longo de nossa vida) rígido, não nos permitimos ter esse tipo de pensamento e sentimento inaceitáveis e indesejados, então projetamos na namorada (o) a vontade de trair, como forma de abrandar o Superego e não sentir tanta culpa.

Ou seja, é uma vontade recalcada de trair. E, projetando essa vontade na namorada (o), nos sentimos aliviados, isento de culpa e absolvido perante nossa consciência.

Mecanismo de Defesa da Generalização

“Se seu pai fez isso com a sua mãe? Sendo assim, todo homem vai fazer isso com sua esposa”. Está instalado aí o Ciúme.

Pode até acontecer que você não saiba o motivo do seu ciúme. Pode você nem lembrar que seu pai traía sua mãe. Ou você pode, ainda, não ligar uma coisa à outra.

O fato é que, se você não descobrir o motivo do seu ciúme e não ressignificar esse sentimento, você sentirá ciúme de cada parceiro (a) que tiver, sempre se utilizando da generalização.

Mecanismo de Defesa do Isolamento

Você falou que não sentiu ciúme quando descobriu que foi traído (a), mas há um equívoco nisso. Você sentiu ciúme sim, mas o ciúme foi isolado para não causar tanta dor.

Como assim isolado?

O inconsciente separou ao fato (a traição) do sentimento ligado ao fato (o ciúme, a dor, a rejeição). Então essa situação aparentemente não causou maiores problemas naquele exato momento.

Acontece que o sentimento está lá (na psicanálise, o afeto), escondido, cheio de energia e pronto para ser canalizado em algum momento.

Como, por exemplo, podemos futuramente desenvolver um medo incomum, ou um pânico, uma fobia social; talvez fobia a cachorros.

Ou seja, você pode canalizar aquele ciúme, aquela decepção, para algum comportamento em algum momento de sua vida.

Esse comportamento é individual, subjetivo e cada um vai apresentar de uma maneira diferente. Mas o certo é que vai apresentar, pois a energia está lá, foi isolada, e vai ser canalizada futuramente.

O ciúme irá se manifestar. De uma forma ou de outra.

Compulsão à Repetição

Sabe aquele ditado popular “dedo podre”? Pois é, essa expressão é comum, mas algumas pessoas não sabem de onde ele vem.

Ele vem da necessidade de se repetir o que já foi vivenciado antes, mesmo que sejam situações difíceis.

A tendência que temos é a de repetir padrões da infância, porque é o que conhecemos, o que somos familiarizados e o que nos traz segurança.

Mesmo que você repita uma experiência ruim do passado, é a que você está acostumado (a) e a que vai trazer para o comportamento atual. Você deve procurar no seu passado o que está sendo repetido.

Talvez você tenha crescido em um ambiente hostil (pai grosseiro, traidor, ciumento, mãe submissa), lar disfuncional (álcool, drogas, maus tratos), falta de amor, carinho e atenção.

Ou seja, é o tipo de relação afetiva que você está acostumado (a), você vai repetir o contexto familiar, para permanecer “em casa”.

O certo é que o que você vivenciou, vai repetir. E o pior, achando que é normal.

Enquanto você não identificar esse padrão, nada poderá ser feito. E isso é bem difícil porque a maioria das pessoas não sabe o motivo de estar agindo assim. Ou melhor, nem sabe que “o dedo podre” tem um motivo.

A contribuição da Psicanálise no ciúme.

O ciúme é um sentimento normal, se ele for brando, temporário e não cause transtornos à sua rotina. Quando ele passa do limite do aceitável, aí já se torna um problema.

E a causa desse ciúme excessivo tem que ser investigada e trabalhada, para se chegar a um relacionamento mais tranquilo, feliz e saudável emocionalmente.

A psicanálise é muito importante na hora da investigação das causas do ciúme.

Talvez você não saiba que seu ciúme veio de algum lugar, que ele não surgiu do nada. Se não for o caso de um parceiro inadequado, então o ciúme está em você: por autoestima baixa, por falta de confiança em si mesma (o), por medo, por culpa… por uma infinidade de “causas”.

E essas causas na verdade são sintomas. Sintomas de algo que os desencadeou.

Pode ser que você esteja sofrendo por ciúme exagerado e não tenha nem força para sair de sua zona de conforto.

Além das causas mencionadas aqui, ainda são apresentadas outras, como por exemplo a Síndrome do Abandono e Complexo de Édipo.

Referências bibliográficas

FENICHEL, O. Teoría psicoanalítica de las neurosis. Buenos Aires: Paidós, 1996.

FREUD, S. Alguns mecanismos neuróticos no ciúme, na paranoia e no homossexualismo (1922). In: ______. Além do princípio de prazer, psicologia de grupo e outros trabalhos (1920-1922). Direção-geral da tradução de Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1976. p. 269-281. (Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, 18).

KERNBERG, O. Psicopatologia das relações amorosas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.

KLEIN, M. Inveja e gratidão e outros trabalhos (1946-1963). Rio de Janeiro: Imago, 1991. (Obras completas de Melanie Klein, 3).

MASSON, M. J. (Ed.). Correspondência completa de Sigmund Freud a Wilhelm Fliess (1887-1904). Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Imago, 1986. p. 364-365.

PITTMAN, F. Mentiras privadas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.

 
 
 

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