É normal sentir emoções na prática esportiva: frustração, raiva, medo, tristeza ou ansiedade. No entanto, a maneira como os técnicos trabalham esses sentimentos vai muito além de construir ou destruir o clima da equipe durante a competição e motivando ou desmotivando os atletas. É importante que os técnicos trabalhem a habilidade de controlar essas emoções em si mesmo e nos atletas, mas talvez não da maneira como você deve estar pensando.
Vejamos a seguinte situação:
Uma equipe (time) está num jogo extremamente importante, perdendo por um gol. Minutos antes do término do primeiro tempo, um jogador desse time recebe uma falta na grande área e um 7 metros vai ser cobrado. É a chance de conseguir o empate. Um dos melhores jogadores se aproxima da área para cobrá-lo. À primeira vista, a cobrança é perfeita, pois a bola sobe em direção ao canto superior da rede e, em vez de entrar no gol, bate na trave e volta, em direção ao cobrador do 7 metros. Com as mãos na cabeça, o jogador sai de campo rumo ao vestiário e junta-se ao time para a reunião do intervalo.
Todos estão decepcionados – o time e o técnico. O técnico tem como meta fazer com que os jogadores superem esse fato, para que estejam prontos para voltarem a quadra energizados e motivados. Será que o técnico deve dominar sua frustração, botar um sorriso amarelo no rosto e não discutir o ocorrido? Ou será que ele deveria ser franco e expressar seus sentimentos? Qual dessas opções o ajudaria a atingir o objetivo?
Nenhuma delas, na verdade.
Os técnicos que têm controle, têm bom desempenho.
*Uma pesquisa sobre o controle emocional mostra que a habilidade do técnico em controlar as emoções irá determinar a moral e a motivação do time”.
Um dos aspectos da inteligência emocional – o controle emocional – pode ser a “competência principal. A maneira como o técnico controla as emoções é essencial para determinar se o resultado para a equipe será positivo ou negativo. Pesquisas mostram que as pessoas tendem a controlar as emoções de duas maneiras: através da supressão ou da reavaliação.
A supressão é o que as pessoas mais fazem: escondem os sentimentos e fingem não estar aborrecidas. Assim como essa é uma estratégia muito comum, ela também leva a uma série de consequências negativas para a pessoa em questão: poucos relacionamentos sérios, um número maior de emoções negativas, menos apoio da sociedade, baixa satisfação para com a vida, memória fraca e pressão alta.
Além disso, pesquisas também mostram que suprimir as emoções aumenta o estresse em outras pessoas. Por exemplo, se o técnico esconde seus sentimentos, é provável que a pressão arterial dos jogadores do time aumente. Os jogadores podem não perceber, conscientemente, que o técnico está bravo – uma vez que ele não demostra – mas eles percebem, fisiologicamente, essa inautenticidade que, por sua vez, acende a luz amarela. Os atletas percebem inconscientemente ou poucas vezes conscientemente na mudança de comportamento repentina, no tom de voz muitas vezes alterado ou com tom de sarcasmo, uma voz mais contida e falada entre os dentes, na forma que retira o atleta da quadra, não demonstrando acolhimento.
Considerando os impactos negativos da supressão dos sentimentos, você deve estar pensando que expressá-los por completo pode ser uma estratégia bem mais eficaz, ainda que possa gerar consequências destrutivas. Se o técnico tivesse demonstrado a frustração que estava sentindo naquele momento, ele provavelmente teria acabado com a autoconfiança dos jogadores. Em vez de gerar conexão e motivação, muito provavelmente ele teria deixado os jogadores medrosos e deprimidos.
Reavaliar, ou repensar uma situação emocional, pode ser a estratégia mais eficiente numa situação dessas. Por exemplo, o técnico poderia lembrar que “o jogo só acaba quando termina” ou “este foi só um dos jogos da temporada. Haverá outras oportunidades para o time brilhar”. “erro cometido não dá pra voltar atrás, mas dá para orientar o atleta, então não vale a pena ficar reclamando pelo que não foi feito ou não foi acertado”. A reavaliação ajuda-o a se acalmar. Como resultado, pode ser que ele perceba que os jogadores já estão aborrecidos e que, em vez de gerar mais descontentamento, eles precisam de ânimo. Uma maneira de iniciar a reunião seria dizer que ele sabe que todos estão chateados, mas enfatizar que o resultado desse revés depende da determinação deles para vencer esse desafio e virar o jogo na sequência do jogo, quer seja na pedida de tempo, quer seja no intervalo para o segundo tempo.
Os resultados serão melhores para o técnico e seu time.
Recentemente, foi realizado uma análise com 15 técnicos de times colegiais e seus respectivos atletas. Os técnicos que tendiam a reavaliar as emoções mais frequentemente, apresentavam em geral, menos emoções negativas do que os técnicos que tendiam a escondê-las. Além disso, os técnicos que reavaliavam obtinham uma equipe com espírito positivo, forjado na confiança, comunicação e motivação.
Pesquisas sobre liderança dão embasamento para esses resultados, mostrando que o controle das emoções é uma habilidade primordial apresentada por líderes de sucesso, e não somente por técnicos de atletas. Isso se liga ao fato de que um dos padrões de desempenho de um líder forte é sua habilidade para gerenciar e influenciar o estado emocional daquelas pessoas com quem ele trabalha. Os líderes precisam saber como inspirar e gerar confiança em seus seguidores para ajudá-los a manter a motivação e saber lidar com dificuldades quando surgirem. Para ter um bom resultado nessa árdua tarefa, é preciso controlar suas próprias emoções com eficiência.
Os enormes benefícios da reavaliação são embasados por pesquisas sobre a interação entre os líderes e seus seguidores. Uma análise feita mostrou que os líderes que optaram por fazer uma reavaliação em vez de esconder más notícias, conseguiram ajudar seus seguidores a controlar suas reações de irritação. Os seguidores dos líderes que optaram por não demonstrar os seus sentimentos nesse paradigma, demonstraram mais raiva e atitudes negativas para com seus líderes.
Pratique o exercício da reavaliação
Reavaliar fatos pode parecer difícil em tempos de crise. Vejamos uma técnica descoberta por meio de estudos que pode ajudar: pense no problema como um desafio, e não como uma ameaça. Inúmeros fatos mostram que encarar os problemas como desafios, e não ameaças, ajuda as pessoas a se concentrarem na atividade que estão fazendo e a pensarem nas etapas que devem percorrer para terem êxito. Enfrentar desafios gera resiliência quando em situações de estresse.
Em contrapartida, o fato de encarar um problema como ameaça não só tem causado queda do desempenho e na motivação, como também tem aumentado o nível de estresse.
*Quando o seu nível de estresse está alto, “uma maneira rápida de voltar ao seu estado normal para ter condições de reavaliar é através da respiração profunda”. “Ao ensinar atletas a controlar algo tão fácil como a respiração, é possível obter uma enorme diferença na equipe.” Estudos mostram que é possível controlar as emoções apenas com a respiração. As inspirações aumentam o ritmo cardíaco e a pressão arterial, ao passo que a expiração os diminui. Um exercício fácil de realizar até mesmo quando estiver em uma competição é fazer com que a sua expiração dure o dobro do tempo da sua inspiração. Caso você tenha tempo, tente fazer isso, pois você irá se acalmar rapidamente.
Sendo assim, como estar bem preparado para situações de alto risco, quando é preciso controlar as emoções? Diariamente, faça esses exercícios quando os riscos não forem tão altos. Quando as coisas ficarem mais difíceis, você estará preparado.
* Marc Brackett, diretor do Yale Center for Emotional Intelligence e autor do livro, Permission to Feel.
* Johann Berlin, CEO da TLEX Institute.
Fonte:
https://hbrbr.uol.com.br/inteligencia-emocional-equipe/
Emma Seppälä é doutora e autora do livro The Happiness Track; é Codiretora do Projeto sobre Inteligência Emocional da Yale College, e Diretora Acadêmica do Programa de Liderança para Mulheres da Yale School of Management. Seppälä é também Diretora em Ciências do Centro de Pesquisas e Educação em Compaixão e Altruísmo da Stanford University.
Christina Bradley tem graduação técnica pelo Yale Center for Emotional Intelligence e é gestora das operações de pesquisa e desenvolvimento da Contentment Foundation.
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