top of page

SUOR E LÁGRIMAS - ANSIEDADE PRÉ-COMPETITIVA NO ESPORTE DE ALTO RENDIMENTO

Atualizado: 21 de jun. de 2020

RESUMO

No Brasil, a psicologia do esporte, ainda é vista como uma novidade para os psicólogos, que a reconheceram como uma especialidade da psicologia em dezembro de 2000, apesar da psicologia estar, há mais de um século, vinculada a trabalhos realizados dentro dos esportes. O esporte é um patrimônio cultural da humanidade e é dividido em duas abordagens, o esporte individual e o coletivo.

A ansiedade é um estado emocional que afeta a vida de muitos atletas, podendo se manifestar nas competições e treinos, desencadeando manifestações psicológicas e fisiológicas que podem beneficiar ou não o desempenho do atleta.

Quando falamos sobre ansiedade, devemos tomar cuidado com a confusão de conceitos em relação ao medo, pois ansiedade é um sentimento característicos do ser humano, que se manifesta quando o sistema nervoso central recebe excessiva agitação perante situações de perigo, tensão, entre outras emoções ou sentimentos. Para os atletas a ansiedade pode ser positiva e útil, negativa e prejudicial para o seu desempenho.

Não é por acaso que determinados atletas parecem exceder-se quando em prova, obtendo os seus melhores resultados em competições, ao passo que outros atletas apresentam resultados inferiores aos obtidos nos treinos ou as suas capacidades reais (BRITO, 2004).

A ansiedade dentro do campo desportivo é, hoje em dia, considerada um fator de extrema importância para um atleta, seja qual for a modalidade esportiva praticada.

Sob essa perspectiva, a psicologia do esporte, tem por objetivo o estudo das particularidades psicológicas da atividade esportiva e do atleta. Sendo assim, o presente trabalho busca apresentar um panorama das pesquisas e teorias disponíveis sobre a psicologia do esporte e enfatizar os fatores desencadeadores da ansiedade em atletas durante as competições, seus aspectos positivos e negativos e a influência do psicólogo sobre o modo de confrontar estas sensações pré-competitivas.

Palavras-chave: Psicologia; Esporte; Ansiedade; Psicologia do Esporte; Atleta

1. INTRODUÇÃO

Dentro do contexto das competições a ansiedade é um dos aspectos mais importantes para o desempenho dos atletas, o que se torna central no modo de ação dentro da competição, visto que se constitui em um estado de alerta.

As emoções constituem um dos principais assuntos desportivas, visto que os atletas, no que se refere a atividades, estão expostos a diferentes níveis de ansiedade (MARQUES, 2000).

Dentre os indicadores psicológicos, merece destaque a ansiedade, que pode ser definida como a reação do indivíduo frente a uma situação considerada ameaçadora pelo mesmo, o que produz determinada quantidade de estresse (PARAFFIT; JONES e HARDY, 1990). Além da reação a situações nocivas ou ameaçadoras, a ansiedade também pode resultar de questões frustrantes (SAMULSKI, 2009), consideradas agentes estressores. A ansiedade também pode ser considerada um estado emocional prolongado permeado por temor, apreensão, sensação de desastre iminente e de preocupação debilitante, sem nenhuma explicação racional, mas com possibilidade de provocar medo generalizado no indivíduo, causado pela expectativa de perigos, ameaças ou desafios existentes BARBATI, 1994; BERTUOL, VALENTINI, 2006).

A ansiedade é um estado emocional caracterizado por nervosismo, preocupação e apreensão, além de estar associado com a ativação ou agitação do corpo. E é dividida em ansiedade-traço – o sujeito apresenta um perfil psicológico com características de ansiedade mais constantes, com tendência comportamental de perceber inconscientemente circunstâncias não perigosas como ameaçadoras. E ansiedade-estado – o sujeito pode estar passando por um momento específico de ansiedade, acompanhado de sentimentos de preocupação, nervosismo e tensão conscientes, gerados por uma situação em especial (WEINBERG e GOLD, 2001).

Um estado emocional alterado pode comprometer o desempenho do atleta e existem alguns fatores que influenciam nos estados pré-competitivos, e esse tem uma grande influência na qualidade e intensidade do momento da competição (SAMULSKI, 2002).

Os sintomas da ansiedade para o desempenho do atleta podem ser positivos (facilitadores) ou negativos (debilitadores). Para entender totalmente a ansiedade pré-competitiva é preciso examinar a intensidade (quanta ansiedade o atleta sente) e a direção (se é uma ansiedade facilitadora ou debilitadora) da ansiedade. Ou seja, se a ansiedade não for muito acentuada, pode ser um impulso para uma boa performance ou se for muito exacerbada poderá interferir no desempenho do atleta (FLEURY, 2010).

A psicologia do esporte vem desenvolvendo programas de treinamento com o intuito de mobilizar técnicos, preparadores físicos e atletas na busca de modos de manejo e enfrentamento do estresse competitivo, controle da atenção e a coesão do grupo, pois essas atividades visam, entre outras coisas um melhor desempenho dos atletas nas competições e treinos (RUBIO, 2003).

No esporte, a investigação do nível de ansiedade tem contribuído para explicar diferenças entre os desempenhos competitivos de cada atleta em particular, e da equipe como um todo (WEINBERG; GOULD, 2008). Estudos sobre a ansiedade no esporte revelam que a situação de competição pode promover variações nos níveis de ansiedade do atleta, cujos efeitos alteram o desempenho e podem desencadear quadros de tensão e de estresse (CRUZ, 1986; BALLONE, 2013).

O desempenho esportivo é resultado da combinação de habilidades técnico-táticas (GARGANTA e PINTO, 1998) com fatores fisiológicos, biomecânicos e psicológicos (DANTAS, 2003). A dimensão psicológica, em especial, é importante no âmbito esportivo porque auxilia o atleta a ter mais condições de aproveitar o treinamento oferecido e a desenvolver as capacidades de controle e de manipulação de suas respostas emocionais no decorrer das partidas, bem como valores como disciplina, perseverança, coragem, confiança e força de vontade (BOMPA, 2002).

A psicologia do esporte é uma ciência muito nova e tem como objetivo compreender e lidar com os fatores psíquicos que interferem nas ações do exercício físico e no esporte, auxiliando técnicos, preparadores físicos e atletas a entender e solucionar, da melhor maneira possível, as dificuldades psicológicas e sociais dos atletas. O psicólogo do esporte precisa estar atento a tudo que diz a respeito ao atleta. Precisa trabalhar toda a história de vida do atleta dentro do esporte e dentro da modalidade, a fim de que o atleta possa encontrar autoconfiança, aumentando as possibilidades para alcançar o seu rendimento máximo dentro da competição.

O presente trabalho busca apresentar um panorama das pesquisas e teorias disponíveis sobre a psicologia esportiva e enfatizar os fatores desencadeadores da ansiedade estado (pré-competitiva) nos atletas em competição, seus aspectos positivos e negativos e a influência do psicólogo do esporte sobre o modo de confrontar estas sensações e emoções pré-competitivas.

Justifica-se o presente estudo a tentativa de entender melhor no cenário esportivo a ansiedade pré-competitiva, suas causas e efeitos, os níveis de ansiedade e a atuação da psicologia do esporte dentro deste contexto.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1.HISTÓRICO DA PSICOLOGIA DO ESPORTE

Segundo Rubio (2000) a psicologia do esporte iniciou no final do século XIX e princípio do século XX, quando Norman Triplett, psicólogo da universidade de Indiana, e entusiasta do ciclismo, trabalhou com ciclistas com o intuito de pesquisar e entender por que razão os ciclistas pedalavam mais rápido quando corriam em grupos ou em pares do que quando pedalavam sozinhos.

As pesquisas e estudos de Triplett, só foram reconhecidos no período de 1921 a 1938, com Coleman Griffith, considerado o pai da Psicologia do esporte nos Estados Unidos, devido a elaboração de dois livros, “Psicologia de Técnicos” (1926) e “Psicologia de Atletas” (1928), além de ter fundado o primeiro laboratório de psicologia do esporte na universidade de Illinois, em 1925 (RUBIO, 2007).

Segundo Weinberg e Gould (2001), o grande responsável pelo desenvolvimento científico da Psicologia do Esporte foi Franklin Henry, da Universidade da Califórnia, pois, além de dedicar sua vida profissional ao estudo profundo dos aspectos psicológicos da aquisição de habilidades esportivas e motoras, formou professores de educação física que, posteriormente, se tornaram professores universitários e iniciaram programas de pesquisa sistemáticos.

Reconhecida como uma disciplina em si mesma, e como uma subárea dentro das Ciências do Esporte, a Psicologia do Esporte, segundo Rubio (2003), foi marcada, na década de 1970, pelo desempenho dos pesquisadores em desenvolver pesquisas com ênfase nos estudos experimentais.

[...] na época não se tinha clareza sobre qual deveria ser este conhecimento básico nem como lidar com as variáveis socioculturais envolvidas com o comportamento dos atletas. O desdobramento dessa incerteza pode ser observado na diversidade dos temas investigados, dirigidos à grupos científicos muito específicos. Geralmente esses temas provinham das principais correntes da psicologia. Os estudos sobre personalidade foram os que mais se destacaram, sendo grande o número de investigadores que defendiam a tese de mecanismos internos como reguladores de conduta (RUBIO, 2003, p. 18).

2.2.A PSICOLOGIA DO ESPORTE NO BRASIL

No Brasil a psicologia do esporte ainda é vista como uma novidade, tanto por técnicos, preparadores físicos, dirigentes e atletas que não tem clareza da maneira como essa intervenção pode auxiliar no aumento do rendimento esportivo, ou ainda superar situações adversas, assim como pelos psicólogos que a reconheceram como uma especialidade a partir de 2000 (RUBIO, 2000).

Os primeiros registros do interesse de Psicólogos pela área da Psicologia do Esporte datam da década de 50. O primeiro psicólogo brasileiro a atuar nessa área foi João Carvalhaes. João Carvalhaes trabalhou, em 1958, junto à equipe Campeã da Copa do Mundo e, também, no São Paulo Futebol Clube por 19 anos, além de realizar trabalhos com juízes de futebol na Federação Paulista de Futebol, de participar de inúmeros eventos científicos e de escrever o livro "Psicologia no Futebol", em 1974 (RÚBIO, 2000).

Porém foi na década de 90 que ganhou maior enfoque, quando começou a ser mais

solicitada pelas seleções nacionais, principalmente nas seleções de futebol. Caminhando passo e passo com a Psicologia Geral, pode-se observar o desenvolvimento não de uma, mas de várias Psicologias do Esporte, distintas umas das outras por causa do referencial teórico que sustenta essa produção acadêmica prática (RUBIO, 2000).

2.3.A PSICOLOGIA DO ESPORTE

A psicologia do esporte e do exercício é um estudo científico de pessoas e seus comportamentos em atividades esportivas e físicas, e a aplicação deste conhecimento. É uma área da psicologia que visa promover a saúde, as reações interpessoais, a comunicação, a liderança e a melhoria no desempenho esportivo. A primeira etapa é promover a saúde e ajudar o atleta a ter conhecimento do porquê escolheu determinado esporte, e quais os seus objetivos dentro da modalidade escolhida (WEINBERG e GOLD, 2001).

A psicologia do esporte se desenvolve, também como ciência, não se limita somente em teoria e aplicação. Porém devemos trabalhar com atenção e exatidão cientifica na prática esportiva para não convertê-la em uma psicologia que simplifica todos so fenômenos. Outro aspecto é que a prática esportiva é um campo ideal de investigação para a psicologia do esporte. Ela necessita dos esportes para comprovar suas teorias e para poder aplicar seus métodos. (SAMULSKI, 2002, p. 25).

A Psicologia do Esporte tem como objetivo auxiliar técnicos e atletas a entender e solucionar, da melhor maneira possível, suas dificuldades psicológicas e sociais. Sendo que uma tarefa específica do psicólogo do esporte é o auxílio emocional nas fases de insegurança, a fim de que eles possam encontrar rapidamente a sua segurança e autoconfiança aumentando as possibilidades para o rendimento máximo dentro da competição (VOSER, 2003).

Segundo Feijó (1998), é a adequação da teoria e da técnica das várias especialidades e correntes da Psicologia para o contexto esportivo, seja no que se refere à aplicação de avaliações para a construção de perfis, seja no uso de técnicas de intervenção para a maximização do rendimento esportivo, que constrói as possibilidades de intervenção do profissional.

Os métodos utilizados para avaliar as particularidades de processos psíquicos nos quais se enquadram os atletas são os processos sensórios, sensório motores, de pensamento, mnemônicos e volitivos como os de ordem psicossociais nos quais são estudadas as particularidades psicológicas de um grupo esportivo, buscando revelar e explicar suas dinâmicas (COMISSÃO DE ESPORTE do CRP SP, 2000).

Para Voser (2003), a atividade esportiva é vivenciada pelos atletas com intensidades emocionais muito elevadas, o que prejudica ou não a ação esportiva interferido e modificando não só seu preparo físico e psicológico, mas na administração de suas relações humanas.

2.4.ATRIBUIÇÕES DO PSICÓLOGO DO ESPORTE

Uma das funções do psicólogo do esporte é oferecer um suporte emocional necessário para os atletas que sofrem com as exigências que são peculiares ao esporte, sejam elas na modalidade esportiva (coletiva ou individual), dos esforções físicos, emocionais, da pressão dos dirigentes, mídia, comissão técnica, da família e do próprio atleta. Por isto é imprescindível em qualquer esporte, a presença do psicólogo do esporte (RUBIO, 2007).

Não é raro surgir demandas, dos atletas, que podem ser de ordem pessoal, familiar, existencial ou social e nesse momento o psicólogo do esporte se põe a pensar, que se trabalhar essas demandas ele não estaria saindo do papel de psicólogo do esporte e adentrando a seara do psicólogo clinico. O atendimento clínico no esporte não se refere a um procedimento psicoterápico convencional, pautado em um setting terapêutico que tem como referência o atendimento dual do consultório. O foco da intervenção clínica na psicologia do esporte visa a resolução de conflitos do sujeito-atleta para à busca do desenvolvimento de seu potencial esportivo (RUBIO, 2007, p. 14).

Independente do contexto onde o psicólogo do esporte esteja inserido, é fundamental destacar que o olhar clínico ou o olhar psicológico, deve ser o direcionador das intervenções, no entanto, ser psicólogo do esporte é, acima de tudo, ser psicólogo. (RUBIO, 2007).

A psicologia do esporte é uma área de intervenção na qual a maioria dos atletas podem se diferenciar através da maneira que vivenciam o esporte, podendo leva-los a diferentes reações frente as situações que lhes são apresentadas (SAMULSKI, 2002).

O psicólogo do esporte pode realizar intervenções, com os atletas, técnicos e equipes, em vários aspectos do treinamento, a fim de melhorar e manter o rendimento e a performance. O psicólogo do esporte também pode interagir com fisioterapeutas, com intuito de acelerar o processo de reabilitação dos atletas lesionados. Uma boa comunicação com a equipe interdisciplinar e multidisciplinar possibilita um trabalho mais adequado e assertivo (ABRANTES, 2007).

A psicologia do esporte tem se constituído um desafio para a psicologia antes de se tornar uma especialidade. Enquanto área de conhecimento ela se encontrou, por muito tempo, na divisa entre a psicologia e a educação física, entre os limites do rendimento humano e as atividades motoras básicas e lúdicas. O esporte midiático contribuiu em muito para uma associação entre a psicologia e o rendimento esportivo na medida em que a produção do espetáculo esportivo demanda a utilização de várias especialidades na superação de adversários e recordes, finalidade do esporte competitivo e de pessoas distintamente habilidosas, o atleta de alto rendimento. (RUBIO, 2007, p. 22.).

Conforme Abrantes (2007) a maioria das derrotas que acontecem no esporte é justificada pela dificuldade em controlar as emoções que afetam o rendimento dos atletas.

A prática do psicólogo no esporte não deve se limitar apenas na aplicação, reprodução e desenvolvimento das técnicas de psicologia do esporte. Sua prática deve ser pautada no desenvolvimento humano, na promoção da melhoria do desempenho do atleta, na prevenção, na reabilitação, na motivação, na conscientização dos benefícios que a prática esportiva oferece e na busca pela autoconfiança (RUBIO, 2007).

De acordo com Becker Jr. (1998), tanto no esporte coletivo quanto no individual o psicólogo do esporte exerce funções no desempenho dos atletas como:

· Na modalidade individual é realizada preparação psicológica que tem como objetivo melhorar o rendimento esportivo ou a habilidade global do atleta como ser humano;

· Na modalidade coletiva realiza também preparação psicológica, porém nesta o objetivo é de melhorar o rendimento esportivo ou a habilidade do grupo para comunicação entre seus membros e para superação de seus problemas comuns.

Quanto mais crítica a situação, mais estresse e nervosismo os atletas podem experimentar a partir de como cada pessoa percebe a situação, entretanto, a importância da ansiedade para o atleta nem sempre é óbvia. Um mesmo evento pode ser percebido de maneiras diferentes, dependendo da formação, estrutura de cada pessoa (SAMULSKI, 2006).

A importância da preparação psicológica está em acelerar processos naturais de desenvolvimento das qualidades psíquicas e propriedades da personalidade mais relevantes do atleta. Ela contribui para desenvolver a tendência à autoeducação da vontade e do auto aperfeiçoamento ativo do esportista (RUBIO, 2001).

A Psicologia procura contribuir nas intervenções realizadas junto aos atletas, objetivando o aprimoramento físico, mental, espiritual e emocional.

O treinamento das habilidades psicológicas, é a prática e execução de forma sistemática de habilidades mentais, as quais devem ser treinadas como se fossem as partes técnicas e táticas de um treinamento. Porém muitos técnicos deixam de lado este tipo de treinamento, pois acham que para uma equipe jogar bem é fundamental estar bem fisicamente, tecnicamente e taticamente. Mas ao contrário disto, vários estudos provam que as habilidades psicológicas aumentam o desempenho de um atleta para o decorrer de seu melhor desempenho (WEINBERG E COMAR, 1994).

Alguns outros estudos e pesquisas foram realizados até hoje, as quais fazem uma comparação entre atletas profissional com atletas amadores, onde os atletas profissionais apresentavam melhor concentração durante suas partidas, elevado nível de autoconfiança e baixos níveis de ansiedade e estresse (EKLUND E JACKSON, 1992).

Analisando outros estudos podemos colocar a psicologia do esporte que refere aos fundamentos psicológicos, aos processos e às consequências da regulação psicológica das atividades relacionadas ao esporte, de uma ou de mais pessoas praticantes dos mesmos, onde o foco de estudo está nas diferentes dimensões psicológicas da conduta humana, ou seja, afetiva, cognitiva, motivadora ou sensório-motora (BECKER, 2000).

A Psicologia do Esporte é a transposição da teoria e da técnica das várias especialidades da Psicologia para o contexto do esporte, seja no que se refere à aplicação de avaliações para a construção de perfis, seja no uso de técnicas de intervenção para a maximização do rendimento esportivo (FEIJÓ, 1998).

Atletas e treinadores empenham-se na procura de informação e apoio de psicólogos com o intuito de promover as condições necessárias à construção do estado ideal de prestação. Para se conseguir tal estado, é da maior importância que os atletas identifiquem as condições e os comportamentos associados às suas melhores prestações.

2.5. ID, EGO E SUPER EGO NA ANSIEDADE.

Freud (1929), divide o aparelho mental em três instancias:

· Id

· Ego

· Superego

Onde o id tem a função de dar a mente uma representação psíquica para as forças oriundas da constituição biológica do organismo, além de ser totalmente inconsciente e se constituir no reservatório de energia da personalidade. Ainda no id, se contém tudo que é herdado, que está presente na constituição, portanto nos instintos que se originam da organização somática e encontra-se uma primeira expressão psíquica que são desconhecidas.

Segundo Tillich (1976) a percepção de ameaça a própria vida é quando tomamos consciência do id, como ansiedade do destino e da morte, em que o não ser ameaça a própria existência biológica do indivíduo.

Tillich (1976) ainda explica que o id é a porção do aparelho mental cuja função é dar a mente uma representação psíquica para as forças instintivas oriundas da constituição biológica do organismo, além de ser totalmente inconsciente e se constituir no reservatório de energia de toda personalidade.

O ego por sua vez, é a instancia central da personalidade e constitui o polo psicológico por excelência. É definido como um grupo de processos mentais cuja função é perceber e reconhecer as variadas forças integrando-as, buscando uma adaptação interna e externa. É a parte do aparelho psíquico que está em contato com a realidade externa. Desenvolve-se a partir do id na medida em que o bebê toma consciência de sua própria identidade, para atender e aplacar as constantes exigências do id (TILLICH, 1976).

O ego protege o id, mas extrai dele a energia para realiza-lo. Tem a tarefa de garantir a saúde, segurança e sanidade da personalidade. Pode-se, nesse momento, remeter a ameaça que o não ser faz ao homem como um todo, ameaçando tanto a autoafirmação espiritual como ontológica (Particular ao ser, ao ente ou ao que existe realmente, e às suas qualidades), a que Tillich (1976) chamou de ansiedade de vacuidade e perda de significação.

Ainda para Tillich (1976) o superego tem a função de julgar criticamente as outras funções mentais, em termos de um padrão moral de certo e errado, bom e mau, recompensa e castigo; assim como o ego, o superego é em parte consciente e parte inconsciente.

Para Freud (1929) o superego apresenta três funções:

· Consciência

· Auto-observação

· Formação de ideias

E afirma que o homem é responsável por si mesmo e é composto, essencialmente, pela liberdade infinita, colocando a si mesmo o papel de juiz de si próprio, atentando para o sentimento de culpa como a consciência da ameaça a autoafirmação moral do homem.

Essa divisão em id, ego e superego, permite uma concepção sistemática das variadas forças e funções psicológicas que estão presentes, ao mesmo tempo, na mente. Desde que essas forças possam ter objetivos contraditórios ou incompatíveis, surgirão situações de conflito psicológico. Este tanto pode ser um conflito dentro do aparelho mental (conflito intrapsíquico), quanto um conflito entre o organismo e o ambiente externo. Frequentemente há uma combinação de ambos, de maneira que o conflito existente entre organismo e o ambiente externo está relacionado com um conflito intrapsíquico (FREUD, 1929, p.37).

A função mais importante do ego é de manter um estado de adaptação interna para o aparelho mental, a despeito de várias contradições de estresse, bem como de adaptação entre o organismo e o meio ambiente, procurando manter esse sistema equilibrado. Este equilíbrio estabelecido pelo ego, não é nem fixo e nem estático, ocorrendo certos limites, uma constante oscilação do estado dinâmico (FREUD, 1929).

O sistema todo deve ser mantido em um estado dinâmico constante, compreendendo um grau mínimo de tensão e conflito, e grau máximo de satisfação das necessidades, além de uma interação eficaz como o meio ambiente. Qualquer ameaça a este estado de equilíbrio dinâmico aciona um sinal de alerta: a ansiedade.

A ansiedade é a consciência de conflitos não resolvidos que levam a pessoa para o confronto com a sua finitude e a busca da centralidade (TILLICH, 1976), a ansiedade representa importante papel no processo de adaptação e equilíbrio do indivíduo, ela é provocada por um aumento, esperado ou previsto da tensão ou desprazer, e pode desenvolver-se me qualquer situação (rela ou imaginaria), quando a ameaça a alguma parte do corpo ou da psique é percebida e não pode ser ignorada, controlada ou descarregada (FREUD, 1929).

Fadiman e Frager (1979), em seu livro Teorias da Personalidade, descrevem quatro situações prototípicas que causam ansiedade.

a) Perda de um objeto desejado, como por exemplo, a morte de um amigo, pais, emprego, entre outros;

b) Perda de amor, como, por exemplo, rejeição, fracasso em conquistar o amor, ou a aprovação de alguém que lhe importa;

c) Perda de identidade, como por exemplo, medo de perder o controle sobre si mesmo, perda de prestígio, de ser ridicularizado em público;

d) Perda da autoestima, como por exemplo, a desaprovação do superego por atos ou pensamentos que resultam em culpa ou ódio em reação a si mesmo.

A ansiedade é causada pela percepção de uma ameaça. A vida é definida como sendo uma atualização do ser potencial e, dessa forma, o movimento de dirigir-se para fora de si mesmo ocorre de modo a não perder o centro. A centralidade é essencial nesse movimento, pois mantem a auto identidade na auto- relação, ou seja, a auto integração é um movimento que leva a centralidade. Um ser desenvolvido e maduro é um ser centrado, e as perdas, apontadas por Fadiman e Frager (1979), se constituem em ameaça a este movimento de auto integração.

Como se viu acima, a ansiedade pode se manifestar como um sinal de perigo ou ameaça externa ou interna, que mobilizará os recursos intrapsíquicos de defesa, visando o restabelecimento do equilíbrio individual. O temor ligado com situações externas reais de perigo é percebido pelo ego e estará proporcionalmente ligado a natureza e a gravidade do perigo.

Os mecanismos de defesa, são denominados de recursos intrapsíquicos, e referem-se a diferentes tipos de operações em que a defesa pode ser específica. Os mecanismos de defesa bloqueiam a expressão direta de necessidades instintivas e podem ser encontrados em todas as pessoas, desempenhando um papel central no estabelecimento e manutenção do equilíbrio dinâmico (KUSNETZOFF, 1982).

O conflito psíquico é inevitável no ser humano e os mecanismos de defesa são funções que se estabelecem e se desenvolvem em cada indivíduo, fazendo parte de seu amadurecimento psicológico para tratar e resolver tanto os conflitos intrapsíquicos, quanto aqueles que surgem entre o organismo e o meio ambiente. Esses mecanismos, portanto, são encontrados nos estados normais e patológicos.

Kusnetozoff (1982) chama de angústia sinal (angústia aqui compreendida como sinônimo de ansiedade) o alarme disparado pelo ego contra a ameaça percebida de rompimento do equilíbrio acima citado. Neste momento os mecanismos de defesa entram em ação com a finalidade de restabelecer o equilíbrio pré-existente.

Quando os mecanismos de defesa não são suficientes em sua função, os mecanismos secundários do ego podem começar a atuar a fim de diminuir os efeitos da ansiedade sobre o indivíduo). Tais mecanismos secundários são chamados sintomas neuróticos que representam as manifestações da tentativa do ego estabelecer um novo equilíbrio dinâmico frente a um conflito inconsciente não resolvido (FREUD, 1929). Existe a mesma preocupação ao descrever a ansiedade patológica, vivenciada pela personalidade neurótica, que da ligar a uma autoafirmação não realística como forma de evitar o desespero decorrente da percepção do não ser (TILLICH, 1976).

Freud (1929), define ansiedade como um estado afetivo, com combinações de alguns sentimentos de prazer-desprazer. A primeira ansiedade do indivíduo se dá no momento do nascimento, e é considerada como ansiedade tóxica. Ela ocorre em consequência de estimulação instintiva excessiva, que o organismo não tem capacidade de controlar. Freud faz a distinção entre dois tipos de ansiedade: a realística e a neurótica. A ansiedade realística é considerada uma reação normal e compreensível frente a um perigo externo, que provoca no indivíduo um estado de tensão motora aumentado. Tal tensão pode gerar duas reações diferentes: ou o indivíduo adapta-se à situação de perigo, fugindo ou se defendendo, ou o estado de tensão aumentado predomina, causando mais ansiedade, e paralisando as ações da pessoa.


Sintomas físicos da ansiedade:

  • Batimento cardíaco acelerado

  • Boca seca

  • Cansaço frequente

  • Dificuldade para engolir ou sensação de "bola na garganta"

  • evitar a qualquer custo, lugares ou situações que provocam ansiedade

  • Tontura ou vertigem

  • Transpiração excessiva e mãos suadas

  • Tremores e espasmos musculares

  • Urinar com muita frequência

  • Se sente assustado e tem inquietação permanente

  • Náusea, diarreia ou problemas estomacais

  • Respiração superficial

  • Rubores (calores) ou calafrios

  • Tensão muscular e dores musculares

3. CAUSAS E EFEITOS DA ANSIEDADE

Para Machado (1997), a detecção da ansiedade é muito limitada por conta das várias possibilidades de sua origem. No entanto, é sabido que qualquer situação onde haja alguma insegurança, a torcida, os familiares e o próprio professor ou técnico colaboram para este desarranjo emocional.

Lewis (1979) ressalta que existem manifestações corporais involuntárias, como secura da boca, sudorese, arrepios, tremor, vômitos, palpitação, dores abdominais e outras alterações biológicas e bioquímicas detectáveis por métodos apropriados de investigação. Esse mesmo autor lista alguns outros aspectos que podem ser incluídos na descrição da ansiedade. São eles:

· Ser normal ou patológica;

· Ser leve ou grave;

· Ser prejudicial ou benéfica;

· Ser episódica ou persistente;

· Ter uma causa física ou psicológica;

· Ocorrer sozinha ou junto com outro transtorno (p.ex. depressão);

· Afetar ou não a percepção e a memória.

Segundo Damázio (1997), sucesso, a crítica, e a oportunidade esperada são algumas das tensões vivenciadas pelos indivíduos, e, desta forma, podem ser fatores ansiogênicos, pois dependem da percepção e da interpretação que cada pessoa tem dos acontecimentos.

Quanto ao aspecto de percepção da situação, Freschknecht (1990), declara que a ansiedade é o resultado de uma maneira de encarar o mundo em geral ou uma situação em particular, e da forma como se pensa a respeito dos mesmos. Sendo assim, não é o contexto que torna o indivíduo ansioso (nervoso), mas sim a maneira como este contexto é visto e encarado por ele.

3.1.AVALIANDO A ANSIEDADE

Segundo Keedwell & Snaith (1996), atualmente numerosos esforços têm sido feitos na tentativa de definir operacionalmente e avaliar o construto ansiedade, objetivando instrumentos de medidas mais confiáveis. As escalas de ansiedade medem vários aspectos que podem ser agrupados de acordo com os seguintes tópicos:

· Humor – a experiência de uma sensação de medo não associado a nenhuma situação ou circunstância específica; a apreensão em relação a alguma catástrofe possível ou não identificada.

· Cognição – preocupação com a possibilidade de ocorrência de algum evento adverso a si próprio ou a outros; pensamentos persistentes de inadequação ou de incapacidade de executar adequadamente suas tarefas.

· Comportamento – inquietação, ou seja, incapacidade de se manter quieto e relaxado mais do que alguns minutos, andando de um lado para o outro, apertando as mãos ou outros movimentos repetitivos sem finalidade.

· Estado de hipervigilância – aumento da vigilância, exploração do ambiente, resposta aumentada a estímulos (sustos), dificuldade de adormecer (não devida à inquietação ou à preocupação).

· Sintomas somáticos – sensação de constrição respiratória, hiperventilação e suas consequências, tais como espasmo muscular e dor (sem outra causa conhecida), tremor; manifestações somáticas de hiperatividade do sistema nervoso autônomo (taquicardia, sudorese, aumento da frequência urinária).

· Outros – esta categoria residual pode incluir estados como despersonalização, baixa concentração e esquecimento, bem como sintomas que se referem a um desconforto, não necessariamente específico de ansiedade.

Segundo Fioravanti (2006), com o aumento das pesquisas nesta área, muitas escalas foram desenvolvidas para tal avaliação, dentre elas destaca-se:

· O Inventário de Ansiedade de Beck (Beck, 1988);

· Escala de Ansiedade de Hamilton (Hamilton, 1959);

· Escala Breve de Ansiedade (Tyrer, Owen, Cicch, Etti, 1984);

· Escala Clínica de Ansiedade (Snaith, Baugh, Clayde, Husai, Sipple, 1982);

· Inventário de Ansiedade Traço-Estado.

· Escala de Ansiedade Manifesta de Taylor (1953);

· Escala de Ansiedade de Welsh (1965);

· Escala de Ansiedade IPAT (Cattell e Scheier,1963).

Dentre estas, as escalas de Beck (Ansiedade e Depressão) foram traduzidas e adaptadas para