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PERCEPÇÃO


Neuropsicologia da percepção

As necessidades do organismo e os processos motivacionais e emocionais são integrados a percepção do meio externo, permitindo que o comportamento mais adequado possa ser escolhido e que as ações correspondentes sejam planejadas e executadas.

É observado que os processos cognitivos básicos como: percepção, atenção, representações mentais, conhecimento, memória, tomada de decisão, raciocínio, resolução de problemas, criatividade e seus respectivos subprocessos, operam juntos, de maneira complexa, sendo responsáveis por grandes feitos da inteligência.

Regiões especificas do giro temporal inferior e o giro occipitotemporal lateral (giro fusiforme), por exemplo, são sensíveis a percepção e ao reconhecimento de faces, bem como a forma de objetos complexos (Felleman & Van Essen, 1991; Mesulam, 2000; Ungerleider & Haxby, 1994).


A insula recebe e processa informações visceroceptivas que se tornam conscientes, as quais incluem as sensações intestinais, respiratórias e cardiovasculares.

Sao percebidos na insula o toque sensual e a estimulação sexual, as cocegas e sensações térmicas. Ela participa também da percepção da dor e seus componentes emocionais.

A insula parece integrar as informações viscerais e do sistema nervoso autônomo com as funções emocionais e motivacionais (Craig, 2010; Menon & Uddin, 2010).


A amigdala tem sido implicada na coordenação das respostas emocionais (principalmente as aversivas, como o medo) e na regulação do comportamento agressivo e estaria envolvida nos mecanismos de recompensa e suas implicações na motivação. Ela participa também de processos cognitivos, como a atenção, a percepção e a memória e seria importante na atribuição do significado emocional dos estímulos externos. Projeções da amigdala que chegam ao hipocampo podem reforçar a memória de eventos com conteúdo emocional.


Dentre as habilidades visuoperceptivas e visuoespaciais encontram-se as capacidades de: discriminação visual, diferenciação figura e fundo, síntese visual, reconhecimento de faces, percepção e associação de cores, localização de pontos no espaço, julgamento de direção e distância, orientação topográfica, percepção de profundidade e de distância (Benton e Tranel, 1993).


Sensopercepção

Inicialmente, é importante reconhecer a diferença entre sensação e percepção. Enquanto o primeiro construto diz respeito à captação de informações pelos diferentes sistemas sensoriais, a percepção envolve a atribuição de significado às informações captadas.


A cognição social (CS) consiste em um conjunto de processos neurobiológicos relacionados à percepção e à interpretação de informações extraídas a partir da interação com outras pessoas e do conhecimento prévio de normas sociais, o que possibilita a um indivíduo se comportar de maneira adequada e adaptada ao contexto (Adolphs, 2001; Butman & Allegri, 2001; Monteiro & Louzã Neto, 2010). Fazem parte da CS funções como teoria da mente (TdM), percepção e reconhecimento de emoções, empatia, atenção compartilhada, julgamento moral, entre outras.


O termo cognição social refere-se à habilidade de identificação, manipulação e adequação do comportamento de acordo com informações socialmente relevantes detectadas e processadas

em determinado contexto do ambiente (Adolphs, 2001). Para tanto, requer um sistema neural subjacente que gerencia desde o input do estímulo (percepção) até o resultado do processo, ou seja, a manifestação do comportamento adaptativo (Figura 14.1).


A percepção de um estímulo neurocognitivo tende a ser unidirecional, ou seja, somente o sujeito

percebe o estímulo, mas o estímulo (ou sua origem) não percebe o sujeito. Na cognição social, tanto o sujeito percebe o estímulo como o estímulo percebido também percebe o sujeito, o que, consequentemente, afeta ambos, sujeito e estímulo, influenciando o comportamento.

A relação entre o sujeito e o estímulo na cognição social tende a ser interativa.


O executivo central tem como objetivo o foco atencional, a capacidade de direcionar a atenção à atividade disponível, assim como o comando de funções de tomada de decisão (Baddeley, 2012). Em uma revisão e nova proposta do modelo em 2000, Baddeley inseriu um novo componente, o buffer, ou retentor episódico, um sistema supostamente capaz de reter informações por curto tempo de forma multidimensional e realizar conexões entre os subsistemas da MO e as conexões da MO com inputs da memória de longa duração e da percepção (Baddeley, 2011; Canário & Nunes, 2012).


A memória operacional, ou de trabalho, é o componente das funções executivas responsável pelo arquivamento temporário de informações, as quais serão disponibilizadas para outros processos cognitivos. Sendo um sistema de capacidade limitada, auxilia o processamento de

informações atuando como uma interface entre a percepção, a memória de longo prazo e a atuação sobre o ambiente (Baddeley, 2003).


A capacidade de desempenhar essas atividades requer algumas condições: percepção visual, raciocínio espacial, habilidade para formular planos ou metas, comportamento motor e

Capacidade de monitorar o próprio desempenho (Camargo e Cid, 2000).


Dentre as habilidades visuoperceptivas e visuoespaciais encontram-se as capacidades de: discriminação visual, diferenciação, figura e fundo, síntese visual, reconhecimento de faces, percepção e associação de cores, localização de pontos no espaço, julgamento de direção e

distância, orientação topográfica, percepção de profundidade e de distância (Benton e Tranel, 1993).


À medida que estudamos sistemas nervosos mais complexos, as conexões entre sensação e ação

tornam-se mais distantes, e seria um engano pensar que poderíamos estudar a percepção, a atenção e a memória de maneira isolada. Não perceberíamos a floresta ao olharmos apenas para as árvores.

Assim, não podemos compreender a ação motora final sem todas as suas implicações cognitivas, sem levarmos em consideração os complicados padrões de conectividade das estruturas motoras no sistema nervoso central (SNC). Dessa forma, a ação efetiva é o objetivo final de todos

os processamentos internos, e nesse contexto, a aprendizagem motora e o controle motor assumem um papel crucial na produção de movimentos intencionais.


De acordo com a hierarquia dos múltiplos segmentos de controle, as estruturas do nível mais superior, o córtex pré-motor e a área motora suplementar são fundamentais para o planejamento de uma ação com base na percepção da informação atual, na experiência passada e nos objetivos futuros, além de obter uma configuração final do movimento para alcançar um objetivo.


PERCEPÇÃO

A percepção é a habilidade para captar, processar e entender a informação que nossos sentidos recebem. É o processo cognitivo que permite interpretar o ambiente com os estímulos que recebemos através dos órgãos sensoriais. Esta importante habilidade cognitiva é essencial para a vida cotidiana porque permite compreender o ambiente. É possível treinar e melhorar a percepção com a estimulação cognitiva. A percepção é um processo ativo que requer que processemos informações com processamentos "ascendentes" e "descendentes. Isso indica que não atuamos apenas pelos estímulos que recebemos (processamento passivo ascendente), mas que esperamos e antecipamos determinados estímulos que controlam a percepção (processamento ativo descendente).


Percepção, é um processo pelo qual selecionamos, organizamos e interpretamos estímulos, traduzindo-os em uma imagem significativa e coerente. “Na essência, a percepção é a forma como vemos o mundo ao nosso redor e como reconhecemos que precisamos de ajuda na tomada de uma decisão de compra” (LAMB; HAIR; MCDANIEL, 2012, p.99).

Como não conseguimos perceber todos os estímulos ao nosso redor, usamos a exposição seletiva para decidirmos quais estímulos iremos notar e quais ignorar.


TIPOS DE PERCEPÇÃO E NEUROANATOMIA

A percepção é um processo complexo que nos permite conectar com o mundo que nos rodeia. Sistematicamente, a percepção está dividida em cinco sentidos:

· Percepção visual: capacidade de ver e interpretar informações claras do espectro visual que chegam aos olhos. A área do cérebro responsável pela percepção visual é o lobo occipital (córtex visual primário V1 e córtex visual secundário V2).

· Percepção auditiva: capacidade de receber e interpretar informações que chegam aos ouvidos pelas ondas de frequência através do ar ou de outro meio (som). A parte do cérebro responsável da fase essencial da percepção auditiva é o lobo temporal (córtex auditivo primário A1 e córtex auditivo secundário A2).

· Percepção tátil somatossensitiva ou háptica: capacidade de interpretar informações de pressão ou vibração captadas na superfície da pele. O lobo parietal é a parte do cérebro responsável pelas fases essenciais da percepção háptica (córtex somatossensitivo primário S1 e córtex somatossensitivo secundário S2). Exemplo - Coceira: capacidade para interpretar estímulos nocivos em nossa pele, que causam coceira. Está relacionada à percepção háptica.

· Percepção olfativa ou olfato: capacidade de interpretar informações de substâncias químicas dissolvidas no ar (cheiro). As fases essenciais da percepção olfativa são executadas pelo bulbo olfativo (córtex olfativo primário) e o córtex piriforme (córtex olfativo secundário).

· Percepção gustativa: capacidade de interpretar informações de substâncias químicas dissolvidas na saliva (gosto). As principais áreas do cérebro que controlam as fases essenciais são as áreas gustativas primárias G1 (giro pós-central inferior, lobo parietal central, ínsula anterior, opérculo medial fronto-parietal) e as áreas gustativas secundárias G2 (córtex caudolateral orbito-frontal e o córtex cingulado anterior).


OUTROS TIPOS DE PERCEPÇÃO

Além dos clássicos cinco sentidos, hoje somos conscientes de que existem outros tipos de percepção:

· Percepção do espaço: capacidade para entender suas relações com o entorno ao seu redor e com você. Está relacionada à percepção háptica e cinestésica.

· Percepção do formato: capacidade de recuperar informações sobre os limites e aspectos de uma entidade através do esquema e do contraste. Está relacionada à percepção visual e háptica.

· Percepção vestibular: capacidade para interpretar a força de gravidade de acordo com a posição relativa da cabeça e do chão. Ela ajuda a manter o equilíbrio e controle de nossa postura. Está relacionada à percepção auditiva.

· Termocepção ou percepção térmica: capacidade para interpretar a temperatura da superfície da pele. Está relacionada à percepção háptica.

· Nocipercepção: capacidade para interpretar estímulos de temperaturas muito altas ou muito baixas, além da presença de químicos nocivos ou estímulos de alta pressão. Está relacionada à percepção háptica e à termopercepção.

· Propriocepção: capacidade para interpretar informações sobre a posição e o estado dos músculos e tendões, o que nos permite ter conhecimento de nossa postura e em que área está cada parte do corpo. Está relacionada à percepção vestibular e háptica.

· Percepção interoceptiva: capacidade para interpretar as sensações que indicam o estado de nossos órgãos internos.

· Percepção do tempo: capacidade para interpretar alterações em estímulos e ser capaz de organizá-los no tempo.

· Percepção cinestésica: capacidade para interpretar informações sobre o movimento e a velocidade de nossos entornos e do próprio corpo. Está relacionada à percepção visual, do espaço, do tempo, háptica, interoceptiva, proprioceptiva e vestibular.

· Percepção quimiossensorial: capacidade para interpretar substâncias químicas dissolvidas na saliva, resultando em gostos fortes. Está relacionada à percepção gustativa, mas as duas usam estruturas diferentes.

· Magnetorecepção ou magnetocepção: capacidade para interpretar informações de campos magnéticos. Está mais desenvolvida em animais como os pombos. Porém, foi descoberto que os humanos também possuem material magnético no etmoide (um osso do nariz), tornando possível que tenham magnetocepção.


FASES DA PERCEPÇÃO

A percepção não é um processo individual que acontece espontaneamente. Trata-se de uma série de fases que acontecem para uma captação adequada dos estímulos. Por exemplo, para perceber informações visuais, não é suficiente que a luz incida sobre um objeto e que isso estimule nossas células receptoras da retina para enviar essas informações às áreas cerebrais corretas. Para que a percepção ocorra, tudo isso é necessário. Porém, a percepção é um processo ativo, em que temos que selecionar, organizar e interpretar as informações enviadas ao nosso cérebro:

· Seleção: o número de estímulos aos que estamos expostos diariamente supera a nossa capacidade. Por isso, temos que filtrar e escolher as informações que queremos perceber. Esta seleção é realizada através da atenção, bem como das experiências, necessidades e preferências.

· Organização: quando sabemos o que perceber, temos que reunir os estímulos em grupos para dar-lhes um significado. Na percepção há sinergia, dado que é uma identificação total do que é percebido que pode ser reduzida a características individuais de estímulos. De acordo com os princípios da Gestalt, a organização de estímulos não é aleatória, pois segue um critério específico.

· Interpretação: quando temos organizados todos os estímulos selecionados, damos um significado para eles, concluindo o processo de percepção. O processo de interpretação é modulado por nossas experiências e expectativas.


OUTROS PRINCÍPIOS DA GESTALT

Outros princípios da Gestalt realçam a função da pessoa no processo de percepção, designando uma frequência de três fases:

· Fase 1: primeira hipótese sobre o que estamos prestes a perceber. Isso guiará a seleção, organização e interpretação dos estímulos.

· Fase 2: entrada da informação sensorial.

· Fase 3: contrastar a primeira hipótese com a informação sensorial obtida.


A PERCEPÇÃO NA PSICOLOGIA DO ESPORTE

“A percepção visual é algo tão rápido e seguro, tão fidedigno e informativo que supostamente ocorre sem esforço (Hoffman, 2001)”

A percepção não é simplesmente um processo de elaboração da informação exclusiva das vias aferentes (bottom-up) – influenciada pelo input das vias sensoriais, ela está também relacionada com as vias eferentes (top-down) – influenciada pela experiência adquirida, pelo conhecimento prévio (das experiências passadas). Podemos observar como o processo perceptivo é complexo, pois ele decorre da interação desses dois momentos (Samulski, 2002).

Bottom-up (de baixo para cima) significa que a fonte da informação proveniente do estímulo físico é influenciada pelo input sensorial e utilizada para reconhecer os estímulos.

Para Gibson (1982) o ser humano não percebe e nem confere sentido as informações do ambiente através da interação e envolvimento do conhecimento armazenado na memória.

Já Eysenck e Keane (1994:89) formularam que o processamento da informação ocorre Top-down (de cima para baixo), ou seja, a fonte da informação do contexto considerado relevante é relacionada a experiência adquirida por meio do conhecimento, e por isso ela seria construída.

A experiência que se tem das coisas passadas é também usada para ajudar a reconhecer os estímulos, ou seja, o processamento da informação é impelido pela concepção Top-down, é utilizado para descrever aqueles processos que dependem de conhecimentos e experiências adquiridas em informações contextuais, mas que geralmente se recorre a memória para sua análise.

As impressões sensoriais não são vivenciadas como qualidades isoladas, mas formando um conjunto dessas impressões sensoriais. Assim sendo, é possível compreender o objeto e seu significado e incluindo-o em uma determinada classe de objetos.


Teorias sobre a percepção

Não existe uma teoria sistemática que seja amplamente aceita para explicar o processo psicológico da percepção, mas os trabalhos de investigação científica, com base nas teorias relacionadas a percepção, vão desde aspectos psicofisiológicos da recepção da informação, até a elaboração de modelos computacionais e estudos da área da inteligência artificial.

Apresentam-se diferentes caminhos de pesquisa que se agrupam em teorias fenomenológicas-ecológicas e teorias estruturais-cognitivas, nas suas diferentes linhas: conexionismo, gestalt, processamento de informação, neo-cognitivismo, neurociências cognitivas e inteligência artificial (Williams et al., 1999). Nestes grupos encontram-se as teorias da percepção que se relacionam com à teoria da ação.

No entanto o tema percepção é analisado cada vez mais com profundidade à medida que ocorrem os avanços científicos em diversas áreas do conhecimento.

Gibson (1982, 1994) comenta que todas as informações necessárias para tornar inteligível o meio ambiente visual já está diretamente no input visual, ou seja, o processamento de informação é impelido pelas informações contextuais (bottom-up). Ele considera que não são necessários processos cognitivos superiores ou de experiências prévias (processos inteligentes) para perceber (processo da teoria ecológica).

A inteligência é um processo posterior à percepção, pois os processos para compreender o que vemos são inerentes aos estímulos (Sternberg, 2000).

A inteligência e a percepção são consideradas como processos interativos, ao contrário da posição de Gibson (1982) que as define como processos sequenciais.


Nas teorias construtivistas, é considerada que a identificação ou reconhecimento de padrões e estímulos bidimensionais e tridimensionais no meio ambiente envolvem a equiparação do material extraído dos estímulos visuais com a informação armazenada dentro do sistema de memória, para poder tomar uma decisão sobre qual informação da memória de longo prazo se equipara melhor ao estímulo.

Para Eysenck e Keane (1994) as diferentes aproximações teóricas que explicam a percepção como processo de reconhecimento de padrões podem ser reunidas em quatro posições diferentes:

- Gabarito – A informação do estímulo é comparada diretamente com várias cópias em miniaturas dos padrões armazenados, previamente mostrados, armazenados na memória. O estímulo é identificado, reconhecido como base no gabarito que produz uma equiparação mais próxima ao seu input.

- Protótipo – Sustenta que cada estímulo é um membro de uma classe de estímulos, e que ele compartilha os atributos essenciais daquela classe. Envolve a comparação entre os estímulos com os protótipos (um dado padrão se adequa ao protótipo armazenado), que são formas abstratas que apresentam o elemento básico ou mais crucial de um conjunto de estímulos.

- Atributos - Supõe-se que um padrão é composto por um conjunto específico de características e atributos. Um conjunto de características é extraído do estímulo apresentado e então combinado e comparado as informações armazenadas na memória.

- Abordagem gestalt – os teóricos dessa linha baseiam-se em que o formato geral do estímulo é o mais importante no reconhecimento de padrões, e não os atributos que o compõe. No conceito da gestalt, o todo é maior que a soma das suas partes e pode ser percebido antes das partes que o compõe.


Nas teorias computacionais (Marr, 1982), a ideia básica consiste em que as pessoas, ao perceber, constroem uma série de representações durante o curso do reconhecimento de padrões, divididos em momentos: esboço primário, bi-e-meio dimensional e a representação do modelo tridimensional do fenômeno a ser percebido.

Bergius (1985, p.560) define a percepção como a entrada na consciência de uma impressão sensorial, que chega previamente aos centros nervosos. Através de uma visão cognitivista o autor comenta que a percepção somente se apresenta como uma forma acabada de elaboração de informação de modo consciente. É considerado que através da percepção que se cria uma imagem de si mesmo e do meio ambiente que está inserido.

A tarefa da percepção consiste em filtrar e analisar as informações que chegam do ambiente, de forma tal que possamos entender as características e relações do mundo, para que dessa forma ele se torne previsível e assim podermos nos organizar e adaptar-se a tudo que ocorre no ambiente. A percepção, assim sendo, não é um ato isolado, mas um processo ativo de seleção da informação, que apoia o processo de orientação da ação do atleta na competição (Schubert, 1981, p.43).

A percepção também é vista como um meio pelo qual a informação adquirida no ambiente, através dos órgãos sensoriais, é transformada em experiência de objetos, eventos, sons etc. O processo de transformação sensorial é entendido como a interpretação dos dados, que envolve uma variedade considerável de processo e mecanismos relacionando sistemas fisiológicos inerentes a cada modalidade sensorial e uma complexa operacionalização de processos cerebrais do SNC. Eles interagem e interpretam o output desses temas fisiológicos, relacionando-os com as emoções, sentimentos ou com os aspectos subjetivos da informação (Eysenck e Keane, 1994, p. 43).

Para Eberspacher (1987, p.468) a percepção é entendida como o processo de apreciar a realidade, assim como, a vivência dos sentidos ao receber, perceber, transmitir as informações e consequentemente os conhecimentos sobre si e o meio ambiente que está inserido. Esse conhecimento é condição para a orientação sobre possibilidade e limites de uma ação adaptada a situação.

O ser humano tem sensores que detectam informação no corpo todo (visão, acústicos, cinestésicos, táteis, vestibular ou equilíbrio são os mais relacionados aos esportes, mas também se reconhecem odores, sabores etc.), sendo que a percepção não somente registra a informação, mas também procede a interpretá-la, ou seja, considera-se que é por meio da percepção que as pessoas conseguem formar uma imagem de si mesmas e do meio ambiente que as rodeia (Eberspacher, 1987:102).

O sistema de processamento de informação “cria um problema de cognição de nível superior, que precisa decidir o que deve ser atendido entre as informações sensoriais que estão sendo processadas”, essa é a função dos processos atencionais, sendo que a percepção se relaciona à forma que nossos sistemas identificam a informação (externa e interna) (Anderson, 2004:21).

A percepção abrange muitos fenômenos psicologicos, definindo-a como um conjunto de processos pelos quais reconhecemos, organizamos e entendemos as sensações recebidas dos estímulos ambientais (Sternberg, 2000:110).

Conhecemos mais sobre a percepção visual do que sobre a percepção em outras modalidades sensoriais. A modalidade visual é sem sombra de dúvida a modalidade sensorial mais importante para os indivíduos sem nenhuma deficiência visual. A informação visual influencia a cognição mais do que a informação de qualquer outra modalidade.

A informação visual é fundamental na prática esportiva, pois envolve a identificação ou o reconhecimento de estímulos bidimensionais e tridimensionais no meio ambiente.

A modalidade da percepção visual tem um alcance mais abrangente, pois ela é denominada de inteligência visual – por trás da visão está uma inteligência tão extensa que ocupa quase metade do córtex cerebral, a inteligência visual interage com a inteligência racional e emocional na definição do comportamento do ser humano (Hofmann, 2001: 9).

Atualmente se considera que o processamento da informação que caracteriza a percepção é realizado tanto de cima para baixo (top down), quanto de baixo para cima (bottom up), ambos os processos estando em constante interação.

Uma das definições sobre a percepção que apresenta o conceito mais abrangente sobre os processos cognitivos afirma, que a percepção permite dar significado as coisas e aos objetos, isto é, por meio da percepção torna-se possível dar sentido, significado ao conhecimento perceptivo (Marina, 1995:43). Marina ainda relaciona as características inerentes ao processo da percepção com a sua função. Dessa forma é destacado duas operações relacionadas a percepção:

- Identificação da informação, isto é, captação de um objeto em sua totalidade.

- Reconhecimento de semelhanças e diferenças

Para se proceder ao reconhecimento de alguma coisa (por exemplo características de uma situação de jogo) é necessário que se estabeleça e se admitia primeiramente a existência de um padrão ou esquema que torne possível esse fato.

O problema da pesquisa na psicologia do esporte consiste em conseguir dar conta da impressionante flexibilidade do sistema de percepção do ser humano, que enfrenta uma variedade de estímulos diferentes e assim reconhecer os padrões perceptivos que envolvem a equiparação do material extraído dos estímulos visuais com a informação armazenada dentro do sistema de memória, comparando a informação do estímulo com a informação armazenada.

Por exemplo:

No handebol o armador central da equipe em ataque, no movimento de engajamento, observa o defensor que sai para marcar e a ação do seu colega, pivô, que se desloca um pouco depois para bloquear o defensor e facilitar a ação do armador central. A sequência do armador central em posse de bola, vai depender em parte do que faz o defensor próximo, se sai para marcar ou espera na linha de seis metros, o espaço disponível após a finta a espera do bloqueio e adequado para lançar, o segundo defensor fecha o espaço, fica no ligar, posiciona-se sobre o braço de lançamento do armador central, ainda em posse da bola. Observamos nesse exemplo como é importante a construção da informação a partir da percepção e da inteligência visual (Hofmann, 2001).

Paralela e concomitantemente, a tomada de uma decisão sobre qual informação existente na memória equipara-se melhor ao estímulo, e qual a possível realização tática para a solução de jogo que se deriva para a situação de jogo acima.

A percepção, portanto, apresenta-se como um processo, uma unidade complexa, pois as impressões sensoriais não são vivenciadas como qualidades ou intensidades isoladas, mas em conjunto, como um todo. Desse modo é possível a compreensão do objeto e seu significado, conhecendo-o como incluído em uma determinada classe de objetos (Miller, 1956).


Características da percepção na prática esportiva

A prática esportiva apresenta um elevado nível de complexidade e dinâmica durante os movimentos das ações táticas dificultado a percepção devido inúmeros fatores que se relacionam e interagem ao mesmo tempo (Samulski, 1992;1996; Nitsch, 1986).

A percepção ajuda no processamento e regulamento rápido das informações ou sinais relevantes da ação. Pois um atleta só poderá corresponder as exigências do jogo somente quando apresentar uma ampla e qualitativa experiência adquirida ao longo dos anos da prática esportiva.

A percepção é um processo ativo e seletivo de informações que chegam do ambiente, pois qualquer atleta iniciante estaria sobrecarregado se tivesse que receber e elaborar todas as informações e estímulos ao seu redor.

Seleção significa procurar, identificar e reconhecer novamente determinadas informações existentes durante o jogo, e esses sinais não são percebidos de forma isolados, mas na sua relação e interação lógica com o ambiente da prática esportiva (Schubert, 19981, p.101).

Coordenar os movimentos a serem realizados e adaptá-los às modificações necessárias na prática esportiva e ao meio ambiente, induz a uma elevada exigência dos analisadores sinestésicos, vestibulares, acústicos, táteis, e particularmente visual. Sendo que a visão forma a base para a percepção do meio ambiente e do movimento durante a situação de jogo.

A percepção é importante para que o atleta se organize e se oriente no meio ambiente situacional em que vive.

Percepção são processos presentes em todas as fases da ação esportiva, ela contribui para determinar as mudanças de velocidade, espaço e movimentos do corpo inteiro ou partes dele, da posição do adversário, da forma de controle do equipamento utilizado na prática esportiva, entre outros. Colhemos informações do mundo em que vivemos, selecionando aquilo que mais interessa.

Nosso olhar não é inocente, ele está cheio de desejos e projetos, e no esporte de intenções táticas, de objetivos a serem cumpridos na situação de jogo (Marina, 1995:28).

Na psicologia do esporte a tarefa da percepção consiste em filtrar e analisar as informações que chegam para que possamos entender as caracterís