Um dos principais motivos dos homens não procurarem tratamento psicológico é que eles apresentam grande resistência em falar sobre os próprios sentimentos, acreditando que a exposição demostrará algum sinal de fraqueza.
Desde cedo aprendemos a resolver conflitos por meio da violência, e a se distanciar de nossas emoções para nos tornarmos homens “reais”. Tais estereótipos de gênero criam circunstâncias frágeis para a construção da identidade, da formação da personalidade e do desenvolvimento de habilidades emocionais para resolução de conflitos. Aprendemos a não identificar nossas emoções, não conseguimos diferenciar emoção de sentimento.
Atos violentos são vistos como elementos naturais do processo de socialização dos homens e do chamado exercício da masculinidade, levando os homens a negligenciar sua saúde e como cuidam de si mesmos.
Em diversas culturas, o machismo arraigado cobra um preço muito alto, pois impera a crença de que “homens fortes não choram”. O resultado é que, normalmente, as emoções contidas os levam a situações que prejudicam outras pessoas e a si mesmos. Para esconderem alguns sintomas graves, como os da depressão, muitos buscam válvulas de escape no consumo de álcool e outras drogas.
A principal ideia por traz da expressão homem não chora é de que o homem não pode apresentar fragilidade ou expor suas emoções. Bem, fica claro nesta proposição uma amostra desse comportamento tóxico criado pela cultura machista e um padrão cultural de sufocar sentimentos, nestas frases
“Isso não é coisa de homem”
“Se você fosse homem, não fazia isso”
“Vai lá se é homem”
“Homem é que manda aqui”
“Bebe feito homem”
“Homem não chora”
Reagir de maneira impulsiva com violência física diante de uma ameaça ou conflito
Esses são alguns dos aspectos comumente associados à virilidade e que isso não tem nada a ver com virilidade. Existe uma confusão muito grande entre as concepções de virilidade, força, vigor e violencia.
De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, aproximadamente 1 milhão de pessoas no mundo tiram a própria vida por ano. Os homens lideram o ranking de suicídio na grande maioria dos países. Em 2018, o número de suicídios no Brasil aumentou 34%, e acompanhando as estatísticas mundiais, no topo do ranking estão os homens, correspondendo a 79% do total de óbitos registrados. Cerca de 90% das pessoas que cometeram tentativas ou que chegaram a se suicidar, apresentavam algum tipo de transtorno mental, seja afetivo, de ansiedade ou de personalidade.
O número de suicídios cresceu principalmente entre os jovens de 15 a 29 anos, o que indica que as novas gerações carecem de cuidados em saúde emocional e apontam para a importância da detecção de sinais precoces de instabilidade emocional.
A média global é de 15 homens para 8 mulheres por 100 mil habitantes. Um dos principais motivos é que eles apresentam grande resistência em buscar ajuda psicológica e conversar sobre os próprios sentimentos, acreditando que a exposição demostrará algum sinal de fraqueza.
A saúde mental é cercada de tabus e ainda não é reconhecida no mesmo nível de importância que a saúde física, principalmente no ambiente de trabalho.
Além disso, há também questões socioculturais que precisam ser transformadas para que o homem consiga lidar melhor com seus problemas emocionais, como a construção de que existe somente uma maneira de ser homem na vida, que existe somente uma forma de masculinidade.
Quantas vezes já não escutamos essa frase – homens não choram. Apesar de totalmente inadequada, ela continua sendo ensinada atualmente. O dito popular foi sendo repassado, porém, dificilmente as pessoas notam a problemática do seu significado, pois a principal ideia por traz da expressão é de que o homem não pode apresentar fragilidade ou expor suas emoções.
Então, até quando vamos seguir ignorando este silêncio e omitindo que existe uma repressão de emoções? Perpetuar com tal ensinamento somente aumenta a chance de os homens desenvolverem comportamentos destrutivos.
Sendo assim, romper este silêncio é uma forma de aproximá-los de uma afetividade real. Basta observar a qualidade de como é expresso os afetos nas relações sociais, familiares e amorosas. Então, avalie a maturidade emocional dos homens do seu convívio mais íntimo.
Homens também devem ser encorajados a buscar autoconhecimento, a falar sobre seus sentimentos, a refletir sobre seus valores pessoais e a questionar de maneira crítica o que significa para eles estar no mundo além de míticas masculinas limitantes, como a caixa do homem que nos limita e coloca uma venda que nos adoece na possibilidade de vir a ser.
Na minha experiência, além do desafio mais comum em falar muito pouco dos sentimentos, existem situações de risco capazes de influenciar no surgimento de sintomas prejudiciais à saúde mental masculina.
Uma visão distorcida que associa adoecimento psíquico como sinal de fraqueza dentro do universo do homem. Sendo assim, é mais comum observar insônia, irritabilidade, isolamento e quadros de depressão, ansiedade, pânico e até suicídio dentro desse quadro.
Doenças graves que podem prejudicar a autonomia da pessoa, o que incorre num declínio da saúde mental;
Disfunções sexuais, onde são observados como fator de risco para o aparecimento de complicações mentais e sofrimento psíquico acentuado por afetar diretamente a autoestima;
Abuso de álcool e substâncias que se destacam nos serviços de saúde e nas relações familiares como um comportamento que causa inúmeros prejuízos, influenciando diretamente na resolução de conflitos de forma agressiva;
Situações de violência, onde as diferentes formas de abuso também prejudicam a saúde mental masculina;
Dentre outras que alterem a rotina subitamente.
Existe uma saída ao longo da vida para ser mais saudável e feliz?
Manter qualidade dos relacionamentos. Uma relação de qualidade diz respeito ao indivíduo que se sente seguro em ser autêntico.
Criar laços com quem se tem algum conflito, tendo em vista que os desentendimentos influenciam de forma negativa a vida das pessoas.
Autoconhecimento, é imprescindível se questionar quanto ao que realmente o faz feliz.
Manutenção de bons relacionamentos podem significar a chave para uma vida mais saudável e feliz.
Para atuar na prevenção desses problemas, a busca por um profissional da área da saude mental e a identificação precoce é fundamental.
Caso você identifique - o abandono das relações, rotinas e sintomas já descritos busque um psicólogo, faça psicoterapia e se necessário ele irá lhe encaminhar para um psiquiatra.
De qualquer forma, é importante pensar junto com a sua rede de apoio, seus familiares e amigos, quais são as ações possíveis para minimizar esses fatores.
Uma alternativa interessante é a terapia online, pois ela pode auxiliar neste processo de desconstruir a ideia de que os homens não podem demonstrar sentimentos, afinal, falar é parte do remédio para prevenir adoecimentos mais graves.
Como foi possível verificar, é fundamental falar da saúde mental do homem, tendo em vista ser um assunto ainda cercado por tabus e discriminações, que muitas vezes impedem a exteriorização dos sentimentos.
Referências
Albuquerque, Fernando Pessoa de, Barros, Claudia Renata dos Santos e Schraiber, Lilia Blima. Violência e sofrimento mental em homens na atenção primária à saúde. Revista de Saúde Pública [online]. 2013, v. 47, n. 03 [Acessado 10 Abril 2019] , pp. 531-539. ISSN 1518-8787
Aumento da taxa de suicídios no Brasil
Documentário: A máscara que você vive
Campos, Ioneide de Oliveira, Walter Massa Ramalho, and Valeska Zanello. “Mental and gender health: The sociodemographic profile of patients in psychosocial attention center.” Estudos de Psicologia (Natal) 22.1 (2017): 68-77.
Queiroz, Iasmim Belém Silva, et al. “Abordagens de sexualidade e gênero na saúde do homem: uma revisão integrativa.” Revista Eletrônica Acervo Saúde 43 (2020): e3000-e3000.
Ministério da Saúde
Santos, A. M. C. C. dos. (2009). Articular saúde mental e relações de gênero: dar voz aos sujeitos silenciados. Ciência & Saúde Coletiva.
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